Sociedade: Bispo do Porto critica tentação de subjugar necessidades de pessoas e nações a «interesses externos»

D. Manuel Clemente diz que lógica globalizante colocou «em causa um princípio indispensável, a subsidiariedade»

Porto, 25 fev 2013 (Ecclesia) – O bispo do Porto diz que a globalização é positiva enquanto expressão de uma “humanidade partilhada”, mas tem um “lado problemático” ao favorecer a subjugação de pessoas e nações a “interesses externos” nem sempre adequados às necessidades.

De acordo com D. Manuel Clemente, citado pela página diocesana na internet, “as repercussões” desta situação “são óbvias” no mundo atual, “em campos tão variados como as famílias, os grupos socioculturais de pertença, as associações de todo o género, as autarquias, as escolas e tudo mais de interesse público”.

“Se estas realidades – que são outras tantas dimensões da personalidade humana e da essência relacional forem desativadas por qualquer imediatismo generalizador, nacional ou multinacional que seja, a paz correrá graves riscos, porque nem se respeita a ordem correta das coisas nem se reconhece e proporciona a cada um o que lhe é devido”, alerta o prelado.

O bispo do Porto deixou esta mensagem durante a 3ª Conferência Interdistrital dos Rotários Portugueses, que decorreu sábado em Matosinhos, subordinada ao tema “Servir para a Paz”.

Para D. Manuel Clemente, “o horizonte geral que a globalização foi dando” ao homem “é inquestionavelmente um bem, propício até ao reforço da solidariedade internacional”.

No entanto, aquele fenómeno veio também colocar “em causa um outro princípio indispensável, a subsidiariedade, que sempre requer a participação de cada parte interessada, ou corpo intermédio, na resolução social que se pretenda”.

Sem se deter “demais” em aspetos negativos, o bispo questiona “o que seria” hoje de Portugal neste tempo de crise, “se além do Estado Social que vai subsistindo quanto pode e que é preciso certamente defender e promover”, o país não fosse marcado por movimentos “associativos” com “capacidade demonstrada” no atendimento espontâneo das “necessidades” das pessoas?

Numa época em que a “internacionalização ou mundialização de muitos aspetos da vida socioeconómica, politica e até particular parece requerer” uma lógica de decisão “topo-base”, em que as grandes medidas são tomadas em “Bruxelas ou Nova Iorque, passando ou não por Lisboa”, o prelado deixa um desafio aos rotários:

Que continuem a privilegiar “tudo quanto aproxime e suscite solidariedades, ou ative proximidades” pois trata-se de uma condição “vital para a paz e para a harmonia pessoal e interpessoal”.

O conceito de Rotary Club, nascido nos Estados Unidos, corresponde essencialmente a um clube de serviço voltado para a paz universal, que estimula os seus elementos a uma ação profissional e comunitária ética e responsável.

Atualmente existem milhares de clubes, coordenados pelo Rotary Internacional, onde pessoas e famílias compartilham momentos de companheirismo e de trabalho comunitário.

JCP

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