Cáritas: Governo tem de ser «firme» com a troika

«Não queremos gerir a pobreza dos pobres mas libertar os pobres da pobreza», frisa Eugénio Fonseca

Lisboa, 25 fev 2013 (Ecclesia) – O presidente da Cáritas Portuguesa afirmou hoje que o Executivo de Pedro Passos Coelho deve impedir os representantes da troika, que chegaram esta manhã a Portugal, de imporem novas medidas de austeridade.

“Gostaríamos que o Governo fosse mais firme perante os representantes da troika e que soubesse, em nome do povo, dizer que já não há lugar para exigir mais sacrifícios”, declarou Eugénio Fonseca à Agência ECCLESIA.

O responsável vincou que “o Governo tem de estar em consonância com a realidade, que não se resume, como tem acontecido até agora, à resolução do défice estrutural de Portugal”.

“Temos de acentuar a vertente da solidariedade nesta ajuda da troika, e não apenas uma linha economicista e tecnocrata”, frisou Eugénio Fonseca, que recorda os “sucessivos enganos” nas previsões feitas pelo Executivo.

Depois de sublinhar que “as pessoas ainda não perceberam para que é que servem os sacrifícios”, Eugénio Fonseca mostrou-se convicto de que os apelos da Cáritas em favor da promoção do emprego não têm sido “bem entendidos” porque a orientação política do Governo está a ser “demasiado obsessiva”.

“O que temos vindo a prever [em termos de desemprego] está a concretizar-se. Gostaríamos que não tivesse sido assim. Defendemos, desde há muito, que os tempos determinados para o cumprimento do memorando [acordo entre Portugal e a troika para o cumprimento do défice e de outras metas] não eram realistas”, assinalou.

O responsável considera que “está na hora de voltar a dar sinais de esperança, criando condições para investimentos com vista à recuperação de postos de trabalho, que têm sido perdidos de forma avassaladora”.

Para o dirigente da Cáritas “a causa principal dos problemas de Portugal é, sem dúvida, o desemprego”, que segundo estimativas avançadas na sexta-feira pela Comissão Europeia pode atingir o valor recorde de 17,3% no fim de 2013.

Os números, contudo, podem ser superiores: “As fontes das estatísticas baseiam-se nos registos dos Centros de Emprego. Mas a Cáritas contacta todos os dias com pessoas que desistiram de ir a essas instituições, dizendo que resolvem nada”, referiu.

Os “trabalhadores precários” também estão no centro das preocupações do presidente da instituição católica, já que não são considerados desempregados mas não ganham o suficiente para viver.

“A Cáritas não cruzará os braços no que estiver ao seu alcance para aliviar o desemprego. Não queremos gerir a pobreza dos pobres mas libertar os pobres da pobreza”, acentuou.

A instituição está a assinalar a sua Semana Nacional, dedicada ao tema ‘Fé comprometida. Cidadania ativa’.

 “Quem estiver bem intencionado perceberá que organizações como a nossa não têm interesse algum em fazer oposição política, mas apenas, numa linha construtiva, ajudar este ou qualquer Governo a estar mais em sintonia com a realidade”, assinalou Eugénio Fonseca.

O relatório da Cáritas Europa sobre o impacto da austeridade nos países intervencionados pela troika, Portugal, Grécia e Irlanda, bem como Espanha e Itália, está a ser traduzido para português, devendo ser apresentado em março, adiantou.

A avaliação dos representantes da Comissão Europeia, Fundo Monetário Internacional e Banco Central Europeu ao programa de ajustamento de Portugal prolonga-se por duas semanas.

RJM

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