Bento XVI: D. António Marcelino diz que o Papa «sentiu-se impotente ante os conflitos, manobras e até traições» que dominam a Cúria Romana

Bispo emérito de Aveiro espera que o sucessor de Joseph Ratzinger contribua para «enfrentar» estes problemas e encontrar soluções

Aveiro, 22 fev 2013 (Ecclesia) – O bispo emérito de Aveiro considera que a dificuldade “confessada” por Bento XVI em lidar com os desafios atuais da Igreja, sobretudo as referidas “rivalidades e individualismos” internos, deve motivar “desde já” mudanças no interior do corpo eclesial. 

Num artigo de opinião incluído na edição mais recente do semanário Correio do Vouga, D. António Marcelino denuncia “um centralismo controlador” instalado na Cúria Romana que, “à revelia do Vaticano II, cada dia cresce e bloqueia iniciativas, sem consultas prévias”, condicionando inclusivamente o trabalho dos bispos nos diversos países sob a alçada de Roma. 

De acordo com o prelado, “as Conferências Episcopais nunca foram queridas, nem amadas, pelos poderosos da Cúria Romana e, nos seus países, salvo exceções meritórias, mais somam bispos que esforços organizados de evangelização e de presença eclesial na sociedade”. 

Uma situação que vai levando a que, de dia para dia, “o Colégio Apostólico, essencial à missão da Igreja, se vá desvalorizando”, lamenta. 

Para o bispo emérito aveirense, “não é difícil admitir quanto terá sofrido Bento XVI com a situação da Cúria Romana, estrutura criada para apoio ao Papa no governo da Igreja”, uma vez que se trata de um “homem humilde, superior, sereno, lúcido, atento”. 

Apesar de ter conseguido “algumas reformas significativas”, Joseph Ratzinger “sentiu-se impotente ante os conflitos, manobras e até traições, que se foram levantando a seus olhos, a ponto de tolherem o seu caminho”, realça D. António Marcelino, que espera que a nomeação de um novo Papa contribua para “enfrentar” estes problemas e encontrar soluções. 

“A reforma da Cúria não se faz sem o Papa e a colaboração séria dos que aí trabalham. Esta colaboração parece ainda faltar”, avisa. 

O bispo emérito espera que o próximo Papa seja “capaz de sentir as preocupações do Evangelho, das pessoas concretas e dos tempos que correm”, e que atue apoiado na “fidelidade à Obra de Deus”. 

“Porém, a Igreja não é só o Papa e ninguém pode subir à varanda, para que aí, bem instalado, apenas veja e critique o que, a seu gosto, se passa ou não se passa”, sublinha D. António Marcelino, apontando a humildade de Bento XVI, reforçada no momento da sua renúncia, a 11 de fevereiro, como um modelo a seguir. 

“O gesto de Bento XVI foi de amor à Igreja e de desinstalação, para nos dizer que, na comunidade eclesial, não há compromissos por procuração, nem aceita, como o carisma, a crítica fácil, alheia à vida e à missão”, salienta. 

O bispo emérito de Aveiro conclui a sua reflexão com uma palavra para os fiéis, agora expetantes com a eleição de um novo Papa. 

“Mais do que de especulações fáceis e de ditos inconscientes, o tempo que corre até à eleição do novo Papa, é, para todos os cristãos e suas comunidades, tempo de reflexão, oração, enraizamento do compromisso que nasce da fé, tempo de exame de consciência sobre o amor efetivo à Igreja conciliar e às normais exigências da missão”, sustenta

CV/JCP

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