Cáritas Europa contesta efeitos da austeridade

«As pessoas que atualmente pagam o preço mais alto não participaram nas decisões que levaram à crise»

Lisboa, 14 fev 2013 (Ecclesia) – A Cáritas Europa divulgou hoje em Dublin um estudo sobre o impacto da crise em Portugal, Espanha, Itália, Grécia e Irlanda em que denuncia as consequências negativas da austeridade na população mais carenciada e aponta alternativas.

“Todos os países precisam de reconhecer que o desenvolvimento não é apenas económico e que existe uma inegável inter-relação com a dimensão social”, salienta um comunicado de imprensa enviado à Agência ECCLESIA pela Cáritas Portuguesa, entidade que participou na elaboração do relatório.

As organizações católicas consideram que “a solução de impor medidas de austeridade e reformas estruturais destinadas a reduzir a dívida pública e a relação dívida/PIB deixará de funcionar em termos económicos dentro de poucos anos”.

As Cáritas dos Estados “mais severamente afetados” pela crise “confrontam-se diariamente com cada vez mais pedidos de apoio de pessoas que ficaram numa situação de vulnerabilidade”, refere a nota, sublinhando que “a austeridade, por si só”, não resolve o problema e “está a colocar em risco a coesão social”.

Em quatro dos cinco países analisados verificam-se níveis de desemprego “bem acima da média da União Europeia”, enquanto que a falta de trabalho para os jovens atinge todos os Estados, o mesmo acontecendo com a desocupação de longa duração, que “está a tornar-se estrutural”.

O estudo manifesta também o “aumento da pobreza na maioria dos países”, com as carências ao nível da infância a atingirem todos os estados desde 2007, e realça que o apoio familiar, “característica tradicional” nos Estados analisados, está sob “grande pressão”.

A par destes problemas constatam-se lacunas nos sistemas de proteção social, que não abrangem “grupos em extrema dificuldade”, como trabalhadores informais e aqueles que chegam ao final do pagamento dos subsídios de desemprego.

“Apesar da retórica ser contrária, existe atualmente falta de integração de políticas económicas e sociais e a falta de um compromisso de longo prazo para uma sociedade inclusiva”, indica a Cáritas Europa, acrescentando que “as pessoas que atualmente pagam o preço mais alto não participaram nas decisões que levaram à crise”.

O relatório pede às instâncias europeias que liderem o processo com vista “à proteção de grupos de risco de situações de pobreza”, e introduzam a “monitorização social” nos países “intervencionados” pela ‘troika’ (Portugal, Grécia e Irlanda).

Assegurar que os fundos estruturais de 2014 a 2020 combatam a pobreza e liderar iniciativas para diminuir o desemprego entre os jovens são também prioridades que as organizações políticas do Velho Continente devem assumir.

Aos governos nacionais e autoridades regionais cabe reforçar os sistemas de previdência e os serviços essenciais, garantir que a pobreza não se agrave, definir contribuições adicionais “apenas a quem realmente pode pagar mais” e “considerar o Governo como empregador de último recurso”.

A Igreja é chamada a “dedicar o maior número possível de pessoas” a contribuir para a resolução da crise, bem como a desafiar os fiéis a aplicar os princípios da doutrina social católica e “a defesa do Bem Comum”, assinala a Cáritas Europa.

RJM

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