Europa/Crise: Cristãos criticam «instrumentalização» da fé

Encontro ecuménico reúne líderes de igrejas cristãs da Europa em Varsóvia, na Polónia, para analisar «desafios e oportunidades» da religião no Velho Continente

Varsóvia, Polónia, 05 fev 2013 (Ecclesia) – O presidente do Conselho das Conferências Episcopais da Europa (CCEE), cardeal Péter Erdö, considera que o cristianismo depara-se atualmente com dois desafios no Velho Continente, o “secularismo” e a “instrumentalização” política.

No discurso de abertura do encontro do comité conjunto do CCEE e da Conferência das Igrejas Europeias (CEC), que está a decorrer em Varsóvia, na Polónia, enviado à Agência ECCLESIA, o prelado húngaro alerta para uma corrente que está a ganhar peso, “que tolera mas não considera a religião, e o cristianismo em particular, como elemento fundamental”.

“Por outro lado, alguns políticos buscam apoio na tradição cristã, mas ao mesmo tempo, procuram adaptá-la de modo a servir determinado objetivo”, salienta o arcebispo de Esztergom-Budapest.

No meio desta conjuntura, favorecida pela crise socioeconómica que a Europa está a atravessar, “as Igrejas cristãs devem ter a coragem de prescindir desse protagonismo”, puramente “emocional”, que “tantos grupos” procuram hoje “capitalizar”.

“O cristianismo é uma religião da revelação, não é apenas racional ou filosófica, o papel da Igreja, assistida pelo Espírito Santo, é ser via para o reconhecimento do conteúdo da fé e não do puro raciocínio humano, que muda consoante a oportunidade”, aponta o cardeal Péter Erdö.

A reunião do comité CEE-CEC, acolhida pela sede da Cáritas da Polónia, em Varsóvia, decorre até quarta-feira e tem como objetivo refletir sobre “a fé e a religiosidade numa Europa em mudança”.

Os representantes dos dois organismos pretendem debater ainda os “novos movimentos cristãos” que estão a surgir na região e identificar “desafios e oportunidades”.

No campo das oportunidades, o presidente do CCEE entende que “numa Europa à procura da sua identidade”, os cristãos “são responsáveis por manter vivo o anúncio do Deus vivo”, da “Boa Nova de Cristo”, portadora de “esperança”, e devem ser exemplo de “comunhão e compromisso” no meio da sociedade.

Para o responsável do CEC, o bispo Metropolita Emanuel de França, do Patriarcado Ecuménico, “o desafio que a Europa enfrenta hoje está a torná-la mais fraca” e a crise económica no sul do continente tornou ainda mais evidente a divisão com o norte”.

O líder das Igrejas Europeias sustenta que esta conjuntura, em conjunto com “a revolta dos partidos de extrema-direita” e “o aumento da imigração” que se está a verificar, ameaça o “processo da integração europeia”.

No que diz respeito ao fenómeno migratório, ele está a ter também impacto direto na “religiosidade europeia”, pois “aumenta a retirada das pessoas para a sua própria identidade” e “favorece o regresso a um comunitarismo de tipo fundamentalista, acentuando as clivagens entre as diversas religiões”, conclui.

O Conselho das Conferências Episcopais da Europa, criado em 1971, é composto pelas 33 conferências episcopais da Europa, representadas pelos seus presidentes, além dos arcebispos do Luxemburgo, Principado do Mónaco, Chipre dos Maronitas e o bispo de Chisinau, na Moldávia.

A Conferência das Igrejas Europeias, estabelecida em 1959, reúne 115 representantes de Igrejas Ortodoxas, Protestantes, Anglicanas e Vetero-Católicas de todos os países da Europa, para além de mais 40 organismos associados.

JCP

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