Professores contestam alterações curriculares aplicadas na abertura deste ano lectivo
Lisboa, 11 set 2012 (Ecclesia) – Milhares de crianças, adolescentes e jovens regressam esta semana às aulas, para darem início a um novo ano letivo marcado pelo aumento do número de alunos por turma e pela constituição de mega agrupamentos.
Em entrevista ao Programa ECCLESIA, António Estanqueiro considera que “houve no mínimo alguma precipitação e alguma incompetência na implementação destas medidas”, uma vez que elas favorecem um ensino cada vez mais desumanizado, com “pouco” espaço para a relação pessoal entre alunos e docentes.
No que diz respeito à criação de mega agrupamentos, que em alguns casos implicou a junção de “quase 150 escolas”, o professor de Filosofia e Psicologia do ensino secundário entende que o projeto coloca em causa a sintonia que deve existir entre diretores, professores, funcionários e alunos.
“Não há hipótese de dirigir uma escola com três mil alunos, com várias escolas espalhadas, algumas delas a quilómetros, a chamada gestão de proximidade não vai existir”, aponta aquele responsável.
Para Cristina Sá Carvalho, as decisões tomadas pelo Ministério da Educação e agora aplicadas mostram “uma perversão de processos que tem sido uma tradição nestes últimos 10 ou 12 anos”.
Os responsáveis governativos “importam ideias boas mas não têm um modelo conjunto para o que querem fazer”, lamenta a professora de Psicologia e Práticas Pedagógicas no Ensino Superior.
A última reforma curricular contemplou ainda estratégias como a “eliminação da formação cívica” e a realização de “exames no final de todos os ciclos de ensino”.
Em causa está sobretudo o contributo das escolas para a educação integral dos mais novos.
“Devem ser dadas condições aos alunos para fazerem de facto educação e não apenas se prepararem para testes e exames”, salienta António Estanqueiro.
No meio desta conjuntura, e também de toda a situação económica e social que percorre o país, as famílias devem “estar mais atentas” ao ambiente escolar e à situação dos seus filhos.
“Não descansem depois de comprarem os materiais escolares, porque a escola não pode fazer o resto sozinha”, apela o especialista em Filosofia e Psicologia, autor dos livros “Aprender a Estudar “ e “Boas Práticas na Educação”.
Família e escola devem agir como “parceiros no processo educativo” das crianças, adolescentes e jovens, “num clima de diálogo e respeito mútuo”.
Os progenitores têm a obrigação de “defender os filhos quando eles são, de facto, vítimas de injustiça” mas devem “evitar intrometer-se nas questões pedagógicas relacionadas com as metodologias de ensino e os processos de avaliação”.
Pais “permissivos” e demasiado “protetores” estarão apenas a destruir a autoridade dos professores e a sua própria autoridade”, conclui António Estanqueiro, que incluiu estas sugestões na edição desta terça-feira do Semanário ECCLESIA.
JCP