Cinema: As Crianças de Paris

Paris, julho de 1942. Numa operação sem precedentes, o governo de Vichy desencadeia a tenebrosa ação de detenção de judeus que ficará conhecida na história como “La Rafle du Vel d’Hiv”. A manobra, através da qual se pretende isolar e posteriormente eliminar os vinte e quatro mil judeus registados em Paris, homens, mulheres ou crianças, consegue apesar de tudo ser parcialmente iludida graças ao enorme empenho de muitos. O resultado será, mesmo assim, o extermínio de catorze mil pessoas. Das dez mil que serão salvas, muitas serão crianças que não voltarão a ver os seus pais…

Sete décadas após os acontecimentos narrados, “As Crianças de Paris” traz-nos à memória um dos episódios mais negros da história da humanidade. Sob a direção de Rose Bosch, o filme inspira-se na história verídica da família do ator e realizador Alain Goldman, tendo todas as personagens efetivamente existido, o que não apenas lhe confere um poder narrativo impressionante mas terá também implicado cuidado extremo no tratamento de cada uma delas.

Nesse cuidado, inclui-se a capacidade de não deixar extravasar a carga dramática dos acontecimentos, sem dúvida estrondosa, de forma a concentrar esforços apenas no pior ou no mais debilitado lado do ser humano.

Pelo contrário, e ainda que nada da tragédia se perca, o filme evidencia a todo o momento o impulso de cada um dos envolvidos para ultrapassar o terrível momento que vive, conduzindo-se a si mesmo, aos seus ou aos próximos à possibilidade de salvação, seja ela ainda terrena ou não.

Pela resiliência, solidariedade, pelo inequívoco amor, “As Crianças de Paris” é uma evocação sensível e tocante do perecimento  de uns e sobrevivência de outros, que mesmo evidenciando as manobras e o estado de alienação política que conduzirão à tragédia, onde a plenitude humana de fato se perde, se empenha fortemente em revelar a capacidade de algumas vítimas e envolvidos transcenderem o medo, a intimidação e a morte.

Margarida Ataíde

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