Responsável da Igreja considera que eventual parceria com o Estado para assumir serviços de consulados encerrados é «muito viável»
Lisboa, 17 ago 2012 (Ecclesia) – As Missões Católicas portuguesas no estrangeiro podem vir a assumir alguns dos serviços prestados nos consulados portugueses que foram encerrados, considera o diretor da Obra Portuguesa de Migrações.
“Com o redimensionamento da rede consular que o Estado tem estado a fazer, muitas comunidades ficaram a grandes distâncias dos consulados e das embaixadas”, apontou o frei Francisco Sales em entrevista à ECCLESIA.
O religioso defende que “chegou a altura, mais do que nunca, de o Estado procurar a descentralização [dos seus serviços] e aproveitar as redes que estão no terreno”, como é o caso das Missões Católicas.
Estas instituições vocacionadas para o apoio espiritual aos emigrantes portugueses “podem ajudar em algumas situações, evitando que as pessoas se desloquem, por vezes centenas de quilómetros” para resolver assuntos simples, referiu.
As Missões têm a capacidade de servir de “canal” para fazer chegar formulários e registos aos consulados, sustenta o responsável, acrescentando que o Estado poderia formar os agentes que já trabalham a tempo inteiro ao serviço da Igreja Católica.
[[v,d,3343,Entrevista ao presidente da Obra Católica Portuguesa de Migrações, frei Francisco Sales Dinis]]A eventual parceria com os serviços estatais, que tem sido estudada ao nível da Comissão Episcopal da Pastoral Social e Mobilidade Humana, responsável pelas Migrações, é classificada pelo frei Sales como “muito viável”
O diretor sublinhou também que as Missões Católicas “não têm os meios materiais” para responder ao número crescente de pedidos de ajuda dos emigrantes lusos.
O responsável lamenta que a Igreja não consiga acompanhar como desejaria a diáspora portuguesa do ponto de vista espiritual: “Continuamos com algumas lacunas, que na minha perspetiva são gritantes, mas não tem havido possibilidade de as preencher”.
A Obra Católica Portuguesa de Migrações recorre ao serviço de padres que falam português, especialmente brasileiros, mas a solução nem sempre agrada aos emigrantes.
“Por vezes as comunidades gostariam mais de ter um sacerdote português, que entendesse melhor a mentalidade e a cultura, mas não é fácil. A nossa preocupação é encontrar alguém que fale a mesma língua”, justificou.
Os emigrantes vão ter de habituar-se igualmente a que a presença católica seja cada vez mais coordenada por leigos porque “é impossível encontrar padres para estarem à frente de todas as Missões”.
Ao clero ficará cada vez mais reservada a “função sagrada”, assegurando nomeadamente os sacramentos, explica o religioso, acrescentando que “muitas paróquias e dioceses [no estrangeiro] estão a viver com a força da presença portuguesa”.
A Obra Católica está a seguir o fenómeno do tráfico de pessoas e tem planos para estar mais próxima dos imigrantes retidos no aeroporto enquanto não lhes é dada autorização para entrar em Portugal ou que aguardam ordem de expulsão, adiantou o frei Sales.
A Igreja dedica esta semana aos migrantes com o tema “Celebrar a memória para projetar a Nova Evangelização do futuro”, inspirado nos 50 anos da Obra Católica Portuguesa de Migrações, que se assinalam em 2012 com encontros, celebrações e a edição de um livro.
A Semana termina no domingo com uma missa na paróquia de Nossa Senhora do Monte Sião, na Amora, Diocese de Setúbal, transmitida em direto pela TVI a partir das 11h00 e que conta com a participação de um “coro intercultural”.
PTE/RJM