Alexandra Almeida aproveita férias de verão para trabalhar na comunidade de Nambuangongo, em Angola
Lisboa, 23 jul 2012 (Ecclesia) – Os leigos católicos que partem para trabalhar voluntariamente em países em desenvolvimento são muitas vezes obrigados a deixar cair as suas teorias e projetos de cooperação devido à pobreza e falta de meios que encontram.
Os missionários levam uma “mala cheia” de “ideias e teorias” mas ao chegar ao terreno percebem que o que lhes resta “é estar” com os habitantes e ouvi-los, dada a incapacidade de erguer infraestruturas, explicou Alexandra Almeida ao programa ECCLESIA na Antena 1 que vai hoje para o ar, a partir das 22h45.
Há mães que levam os filhos ao médico mas fazem meia volta durante a caminhada porque a criança lhes morre nos braços, e no tempo da seca e das chuvas não há o que comer nem forma de transportar os produtos, mas ainda assim a população vive “com muita esperança de que as coisas vão mudar”, relata.
Diante deste cenário, a rotina de um missionário passa por “estar no silêncio, na oração ou a partilhar o dia a dia” com a população, e por vezes “não fazer nada”, refere Alexandra Almeida, que desde 2009 aproveita as férias de verão para trabalhar na comunidade de Nambuangongo, no interior norte de Angola.
A secretária de 36 anos, que integra o projeto de geminação entre a paróquia angolana e a de Famões, nos arredores de Lisboa, descreve uma região sem comunicações, água canalizada e eletricidade, que só desde 2010 passou a ter pároco, depois de anos sem ser visitada por ninguém.
Alexandra Almeida fala de “um povo com fé”, que mesmo sem a frequência dos sacramentos manteve as suas convicções cristãs devido aos catequistas locais, homens “simples” ligados à agricultura, que semanalmente reuniam a população para uma celebração centrada na Bíblia.
Depois de trabalharem o dia no campo, as mulheres regressam a casa carregadas de lenha e com a comida ainda por fazer, mas mesmo assim “andam quilómetros para visitar os missionários, para ter catequese e ouvir uma palavra deles”, salienta.
A missionária é sensível ao “sorriso e à forma de brincar e rezar” das crianças, e dos adultos diz que “dão tudo o que têm”, não só em termos materiais, esmerando-se no acolhimento a quem vem de longe, mas também na doação deles próprios, partilhando as suas vivências da guerra e a esperança num futuro melhor.
“Ao chegar a Portugal percebemos que temos muita coisa de que não precisamos para nada”, observa Alexandra Almeida, acrescentando que mais difícil do que ser missionário num meio pobre é dar testemunho cristão “no trabalho e na família”, um desafio que enfrenta com a inspiração que todos os anos extrai da sua passagem por Nambuangongo.
As emissões desta semana do programa ECCLESIA na Antena 1 apresentam projetos de cooperação da Igreja Católica relatados pelos seus protagonistas.
PRE/RJM