Algarve: Desempregados estão condenados a viver em carência permanente, diz presidente da Cáritas

«Não será com um emprego frágil e de baixos salários» que se recupera «de um passado de dificuldades»

Faro, 26 jun 012 (Ecclesia) – O trabalho sazonal, associado à precariedade dos vínculos laborais e a ordenados reduzidos, não vai conseguir resgatar os desempregados da pobreza e das dívidas que assumiram, considera o presidente da Cáritas Diocesana do Algarve.

“Um em cada cinco algarvios está desempregado”, sublinha Carlos Oliveira, que em artigo publicado na edição de hoje do Semanário Agência ECCLESIA assinala a ausência de “sinais que apontem para uma inversão da crescente degradação”, mesmo atendendo à “empregabilidade sazonal” que ocorre nos meses de verão devido ao maior afluxo de turistas.

O dirigente da instituição de apoio social da Igreja Católica sublinha que “se as pessoas já se encontram em situação tão difícil de endividamento, não será com um emprego frágil e de baixos salários que irão recuperar de um passado de dificuldades, ficando assim condenadas a permanecer numa constante carência de toda a ordem”.

Os serviços da diocese têm registado “um crescendo de pedidos de ajuda” de famílias com um ou mais desempregados “que não conseguem suportar as suas despesas, quer sejam alimentares, quer sejam de dívidas de encargos como a casa, água, luz, medicamentos” e pagamento de propinas universitárias dos filhos, refere.

A Igreja têm procurado responder a estes casos através da Cáritas, grupos paroquiais de ação sociocaritativa e Fundo Diocesano mas as ajudas “ficam muito aquém” das necessidades, explica.

O Fundo, criado em 2010 pelo bispo do Algarve, D. Manuel Quintas, é financiado por um ordenado anual de cada padre diocesano, além de ofertas de particulares e empresas, bem como pela renúncia quaresmal, prática em que os fiéis abdicam, durante a Quaresma, da compra de bens adquiridos habitualmente noutras épocas do ano.

A estrutura analisou mais de 130 solicitações e distribuiu quase 79 mil euros, adianta Carlos Oliveira, que face ao aumento do número de pedidos equaciona a possibilidade de recorrer “brevemente” ao Fundo Social Solidário instituído pela Conferência Episcopal Portuguesa.

O responsável relata que foi intensificada a partilha nas paróquias, tendo algumas estabelecido mensalmente o “Domingo da Caridade”, onde é feita a partilha de bens de diversa ordem entre os membros dessas comunidades.

“Repetiu-se a recolha de alimentos em supermercados e surgiram no início de 2010 os refeitórios sociais ‘Take away’, um na Cáritas Diocesana e outro na comunidade paroquial de Silves, mantendo-se os já existentes”, acrescenta Carlos Oliveira, que elogia o “trabalho generoso e silencioso” dos voluntários.

No dossier do Semanário, dedicado à diocese sediada em Faro, o jornalista Samuel Mendonça apresenta a iniciativa de nove licenciados pela Universidade do Algarve que se mudaram para Querença, “aldeia desertificada e envelhecida entre a serra e o barrocal”, para tentar revitalizá-la em colaboração com a população.

“À jovem equipa foi atribuído o desafio de conhecer os recursos locais (naturais, rurais, culturais, sociais), estudá-los, testá-los e trabalhá-los numa perspetiva de valorização e rentabilização sustentável”, num projeto “que tem mostrado que a vida simples é sempre sustentável, no interior como no litoral”, salienta.

RJM

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