Uma pastoral em mudança

O cónego José Pedro Martins, vigário episcopal para a Pastoral e coordenador do Departamento da Pastoral Profética da Diocese do Algarve, fala à Agência ECCLESIA sobre a reestruturação da ação eclesial, particularmente nos centros urbanos, com os próprios sacerdotes a manifestarem disponibilidade pessoal nesse sentido.

Agência ECCLESIA (AE) – A Diocese do Algarve vai sofrer algumas alterações ao nível da pastoral, mais concretamente na pastoral urbana?

José Pedro Martins (JPM) – Está apontado um caminho, mas que se vai desenhando. Ainda não se chegou a uma fórmula. Este caminho servirá para um maior aproveitamento de recursos humanos na dimensão dos sacerdotes, dos religiosos/as e também dos leigos. A ideia é criar núcleos de ação pastoral em que as paróquias vizinhas possam organizar a sua ação mais conjuntamente.

Atualmente fala-se muito em unidades pastorais, mas não é propriamente isso. Preferimos dizer núcleos de presença missionária por zonas.

 

AE – Esse projeto será aplicado apenas nas urbes da diocese?

JPM – Onde seja possível. Para um projeto destes é preciso que os responsáveis paroquiais, os sacerdotes, estejam abertos a essa possibilidade. Nada é vinculativo e nada é obrigatório. É, apenas, uma proposta de aproveitamento dos recursos, em função da melhor resposta pastoral. Agora que vamos iniciar um quinquénio pastoral (5 anos) – entre 2012 e 2017 – e, aproveitando, naturalmente também o Ano da Fé e outros indicadores para uma ação mais conjunta, pretendemos colocar em prática este projeto.

 

AE – O «Ano da Fé» será central neste quinquénio pastoral?

JPM – No primeiro ano, sim. Temos de aproveitar o dinamismo.

 

AE – A reestruturação implica que os padres passem a viver em comunidades…

JPM – Se alguns sacerdotes optarem por essa fórmula, tudo bem. Mas não é obrigatório. As pessoas podem estar onde estão, mas podem estar ligadas a um projeto. Deixamos ao critério de cada um.

 

AE – Este projeto será também aplicado na zona da serra?

JPM – Será em toda a diocese desde que os sacerdotes estejam disponíveis nesse sentido. É uma proposta que depois vai ganhando a sua adesão e resposta. Sentimos que isso é importante. Nas grandes urbes pretende-se que haja núcleos de presença missionária. Até porque as paróquias nas cidades cruzam-se, a divisão paroquial não tem qualquer significado. É uma nova forma de viver a fé. É fundamental que os cristãos se sintam presença missionária no seu bairro ou no seu prédio. É importante motivar a comunidade nessas zonas para organizar um projeto.

 

AE – Os cristãos não podem estar ausentes do projeto.

JPM – É uma ação englobante. Os leigos devem sentir-se Igreja com rosto. Eles têm a missão de testemunhar a sua fé e disporem-se a acolher.

 

AE – Valorizar os ministérios laicais…

JPM – A valorização dos ministérios laicais passa por aí. Muitas vezes, pensamos nos ministérios laicais como serviços disto e daquilo. A primeira atitude ministerial é a ministerialidade da comunidade, do sentir-se mensageiro. No fundo, isto é a pastoral da proximidade.

 

AE – Esta pastoral também deve ser visível no acolhimento ao turista.

JPM – Estava a falar no plano da população residente, mas há de facto, no meio disto tudo, o encontro com a população que nos visita, os residentes temporários. É preciso dar a conhecer e incluir as pessoas que nos visitam nestes projetos. Dar-lhes a notícia que existe um rosto de Igreja.

 

AE – A formação dos cristãos é um dos primeiros passos…

JPM – Verdade. Um dos itens do nosso programa pastoral é a formação. Já instituímos, vai começar este ano, a nível de cada vigararia, teremos escolas de leigos, onde decorrerão ações temáticas.

 

AE – O cinquentenário do II Concílio do Vaticano estará também em destaque, uma forma de mergulhar novamente nos documentos?

JPM – Um evento faz espoletar e movimentar e, com toda a certeza, os documentos conciliares serão objeto de estudo. Cada paróquia procura programar a sua ação, de forma a termos a diocese em presença missionária. O rosto da Igreja deve estar visível em cada cristão. É fundamental passar da pastoral da manutenção para a pastoral da ação missionária. É preciso colocar isto no coração de todos, mas leva algum tempo.

 

AE – O sotavento e o barlavento, o mar e a serra têm o mesmo ritmo pastoral?

JPM – Procuramos que os cristãos, em qualquer parte, se assumam desta maneira. Mas cada paróquia tem os seus próprios ritmos. Há lugares com mais possibilidades. Há caminhos já percorridos. Mas a proposta é geral.

 

AE – Num mundo em complexas e profundas transformações.

JPM – O clero tem refletido sobre estas transformações. É preciso, de facto, deixar de estar adormecido e acordar.

 

AE – Sendo a região algarvia muito procurada por turistas – nacionais e estrangeiros – a formação do clero também tem em conta este lado, por exemplo o domínio de línguas.

JPM – Há sacerdotes que têm saído para outros países para aprofundar essas áreas, através de cursos intensivos. Há um avanço nesse sentido, do sacerdote estar capaz de realizar a sua missão. Dialogamos também com sacerdotes da vizinha Espanha para trocar experiências das várias realidades pastorais.

 

Partilhar:
plugins premium WordPress
Scroll to Top