D. Anacleto Oliveira, atual bispo de Viana do Castelo, desfia à Agência ECCLESIA o rosário de memórias ligadas à sua infância junto do Santuário de Fátima, onde acompanhou durante muitos anos a peregrinação das crianças
Agência Ecclesia (AE) – Que memórias, enquanto criança, tem de Fátima?
D. Anacleto Oliveira (AO) – Eu creio que comecei a ir a Fátima ainda no seio materno. Nunca perguntei à minha mãe. Mas como ela ia todos os meses a Fátima, sobretudo no verão, e uma vez que eu nasci em julho, creio que nos meses anteriores devo ter ido a Fátima.
A minha história está, por isso, ligada a Fátima: os meus pais tiveram muita ligação a Fátima, uma vez que, ainda solteiros, estiveram presentes na última aparição de Nossa Senhora, em outubro, e, a partir daí e por causa da proximidade geográfica, deslocavam-se com muita frequência ao Santuário de Fátima.
AE – A sua história vocacional está também ligada a Fátima?
AO – Eu estou convencido que o despertar vocacional aconteceu numa dessas experiências peregrinantes a Fátima.
Numa noite de 12 para 13, a minha mãe e outras senhoras passavam a noite em oração no recinto e eu, criança, adormeci… De manhã quando despertei, dei com os olhos num sacerdote a distribuir a sagrada comunhão. Dá-me a impressão que começou aí a minha vocação sacerdotal.
AE – A sua ordenação episcopal aconteceu num espaço semelhante àquele em que decorre a peregrinação das crianças ao Santuário de Fátima. Porquê?
AO – Acima de tudo por uma questão logística, para ter um espaço para todas as pessoas que queriam estar presentes (ainda não havia a igreja da Santíssima Trindade). Para que não houvesse muita dispersão, pedi para colocarem o altar no espaço onde habitualmente fica na peregrinação das crianças, voltado para a Basílica, ficando a assembleia entre o altar e a Basílica, a maior parte na escadaria.
AE – Como padre e como bispo manteve uma grande ligação ao Santuário de Fátima, nomeadamente à peregrinação das crianças…
AO – Eu fui “apanhado” para a peregrinação das crianças por causa da minha experiência na elaboração dos catecismos da infância, nomeadamente os do 3.º e 4.º anos, feitos por uma equipa de Leiria. Essa equipa já colaborava na peregrinação das crianças e convidaram-me também para fazer parte desse grupo. Com o decorrer dos anos, talvez tenha sido o que mais colaborou na preparação dessa peregrinação…
AE – Que memórias guarda dessas peregrinações onde esteve envolvido diretamente?
AO – Desde criança, sempre tive uma relação muito próxima com o mundo infantil (sou o oitavo de nove filhos).
Ao longo da vida de padre, apercebi-me que se deveria apostar muito na catequese das crianças. E sempre tive essa preocupação nos lugares onde exerci o meu múnus pastoral, quer na Alemanha (onde todos os meses celebrávamos uma eucaristia só para as crianças) e depois nas paróquias onde colaborei após ter voltado da Alemanha [local de estudos bíblicos para o doutoramento, ndr].
As crianças sempre me fascinaram, como no Evangelho, onde a criança é objeto de um carinho especial por parte de Jesus e é modelo de vida cristã. Talvez por isso me tenha apercebido muito cedo que é muito fácil transmitir a mensagem cristã às crianças e levá-las a viverem-na.
AE – Que experiência a peregrinação das crianças a Fátima pode proporcionar a elas mesmas e aos grupos a que pertencem?
AO – É difícil traduzir por palavras certos sentimentos… O ambiente que sentimos em Fátima, em todas as grandes peregrinações, intensifica-se na das crianças. Elas são espontâneas, aderem facilmente à mensagem, à celebração. (…)
Fátima é também um local incontornável na religiosidade em Portugal. Acho muito proveitoso que as crianças, desde cedo, se apercebam de tudo o que acontece no Santuário.
AE – Que importância tem a peregrinação das crianças no conjunto da divulgação da Mensagem de Fátima?
AO – As crianças são os destinatários ideais da Mensagem de Fátima, para a viveram, a incarnarem e a testemunharem. Ela foi transmitida a crianças e vivida de modo infantil (sem atribuir qualquer sentido pejorativo a esta palavra).
A Mensagem de Fátima destina-se a todas as pessoas mas, porque foi transmitida a três pastorinhos, pela simplicidade e riqueza que ela tem, encontra nas crianças os futuros divulgadores dessa Mensagem.
Foi uma descoberta bela que os responsáveis do Santuário lentamente fizeram, com esta peregrinação das crianças! Que continua a crescer de ano para ano…
Paulo Rocha (Com Notícias de Viana)