Uma diocese em nove Ilhas

Padre Cipriano Pacheco, Membro do Conselho Episcopal da Diocese de Angra

 

Pode dizer-se que a natureza arquipelágica da diocese de Angra, nos Açores, constitui uma oportunidade de catolicidade, na medida em que permite conjugar dimensões como identidade, unidade e diferença ou diversidade.
É fácil perceber a existência de uma identidade açórica que convive, naturalmente, com a diversidade ou diferença de tradições, costumes ou formas de expressão religioso-culturais típica de cada ilha. São diferenças que enriquecem o conjunto dos Açores.
Estamos perante uma diocese marcada pela presença incontornável do mar que une as ilhas, ao mesmo tempo que as separa e distancia umas das outras, estabelecendo distâncias consideráveis entre elas. No entanto, não deixa de ser o próprio mar um dos fatores promotores da especialidade de cada uma das ilhas. É algo que faz dos Açores uma diocese “sui generis”, onde a intercomunicação não foi sempre fácil, circunstância que contribuiu para a referida especificidade própria de cada ilha, conduzindo ao aparecimento de expressões culturais ou tradições algo diferentes e enriquecedoras de todo o conjunto açórico.
Outro fator fundamental da identidade açoriana teve a ver com o Catolicismo, enquanto prática religiosa comum a todas as ilhas, mesmo se cada uma delas possa representar alguma diversidade no que toca às formas de expressão da sua condição católica. Talvez aí esteja o que permitiu aos Açores tornar-se um caso revelador de como é possível, na sua diferença islenha, manter uma identidade comum. Tudo isso sem esquecer a experiência de isolamento que atingiu a vida das pessoas nas diferentes ilhas, dando lugar, durante muito tempo, a uma muito reduzida intercomunicação diocesana.
Na atualidade, as circunstâncias mudaram muito em matéria de comunicações, permitindo uma maior proximidade e interligação na diocese, sem que isso represente uma anulação da originalidade das respetivas ilhas, mantendo na sua diversidade, traços comuns. Exemplo disso mesmo são as festividades do Império do Espírito Santo, neste momento em força e muito vivas em todo o arquipélago, ainda que a seu modo de celebração, organização ou funcionamento possa ter particularidades locais.
Separadas pelo mar, as nove ilhas não deixam de sentir-se membros de uma realidade única, formando uma “Região autónoma”, do ponto de vista civil, e uma diocese única, do ponto de vista eclesiástico. É assim que, no caso dos Açores, estamos perante uma diocese una e diversa.
Dir-se-ia que a própria diversidade açórica revelou-se uma oportunidade de catolicidade, permitindo uma experiência de catolicidade inclusiva da diferença ou diversidade que, não sendo de grande dimensão, nem por isso foi e continua sendo menos enriquecedora.
Sendo ainda a realidade diocesana um elemento muito significativo da unidade açoriana, parece, no entanto, que as novas circunstâncias atuais vão revelando que a unidade regional tende a não ser percebida como decorrendo diretamente de unidade diocesana, tornando a identidade entre diocese e região menos evidente do que em épocas anteriores. Pode ser algo relacionado com a evolução de mentalidades ou com as alterações que passam pelo mundo cultural, social e até religioso, também nos Açores.
A verdade é que, se o calendário católico rege e marca a vida dos açorianos, também é certo que o Catolicismo, nestas ilhas, também está exposto às mesmas influências e alterações que afetam o fenómeno religioso, como em quaisquer outros lugares. Tratando-se de uma população maioritariamente católica, também nos Açores, se assiste ao decréscimo da prática religiosa, à ocorrência da indiferença e à adoção de posicionamentos, modos de pensar e de viver em consonância com as influências do tempo presente. Nada que não possa ser encarado como o desafio a um esforço de adequação da pastoral da Igreja nos Açores aos novos tempos e problemas, tornando-se sempre mais próxima das pessoas nas diferentes ilhas, com especial atenção às novas circunstâncias dos tempos e, se necessário, ousando partir por caminhos novos “conforme o Espírito lhe permita” avançar.
Padre Cipriano Pacheco
Membro do Conselho Episcopal 
da Diocese de Angra

Pode dizer-se que a natureza arquipelágica da diocese de Angra, nos Açores, constitui uma oportunidade de catolicidade, na medida em que permite conjugar dimensões como identidade, unidade e diferença ou diversidade.

É fácil perceber a existência de uma identidade açórica que convive, naturalmente, com a diversidade ou diferença de tradições, costumes ou formas de expressão religioso-culturais típica de cada ilha. São diferenças que enriquecem o conjunto dos Açores.

Estamos perante uma diocese marcada pela presença incontornável do mar que une as ilhas, ao mesmo tempo que as separa e distancia umas das outras, estabelecendo distâncias consideráveis entre elas. No entanto, não deixa de ser o próprio mar um dos fatores promotores da especialidade de cada uma das ilhas. É algo que faz dos Açores uma diocese “sui generis”, onde a intercomunicação não foi sempre fácil, circunstância que contribuiu para a referida especificidade própria de cada ilha, conduzindo ao aparecimento de expressões culturais ou tradições algo diferentes e enriquecedoras de todo o conjunto açórico.

Outro fator fundamental da identidade açoriana teve a ver com o Catolicismo, enquanto prática religiosa comum a todas as ilhas, mesmo se cada uma delas possa representar alguma diversidade no que toca às formas de expressão da sua condição católica. Talvez aí esteja o que permitiu aos Açores tornar-se um caso revelador de como é possível, na sua diferença islenha, manter uma identidade comum. Tudo isso sem esquecer a experiência de isolamento que atingiu a vida das pessoas nas diferentes ilhas, dando lugar, durante muito tempo, a uma muito reduzida intercomunicação diocesana.

Na atualidade, as circunstâncias mudaram muito em matéria de comunicações, permitindo uma maior proximidade e interligação na diocese, sem que isso represente uma anulação da originalidade das respetivas ilhas, mantendo na sua diversidade, traços comuns. Exemplo disso mesmo são as festividades do Império do Espírito Santo, neste momento em força e muito vivas em todo o arquipélago, ainda que a seu modo de celebração, organização ou funcionamento possa ter particularidades locais.

Separadas pelo mar, as nove ilhas não deixam de sentir-se membros de uma realidade única, formando uma “Região autónoma”, do ponto de vista civil, e uma diocese única, do ponto de vista eclesiástico. É assim que, no caso dos Açores, estamos perante uma diocese una e diversa.

Dir-se-ia que a própria diversidade açórica revelou-se uma oportunidade de catolicidade, permitindo uma experiência de catolicidade inclusiva da diferença ou diversidade que, não sendo de grande dimensão, nem por isso foi e continua sendo menos enriquecedora.

Sendo ainda a realidade diocesana um elemento muito significativo da unidade açoriana, parece, no entanto, que as novas circunstâncias atuais vão revelando que a unidade regional tende a não ser percebida como decorrendo diretamente de unidade diocesana, tornando a identidade entre diocese e região menos evidente do que em épocas anteriores. Pode ser algo relacionado com a evolução de mentalidades ou com as alterações que passam pelo mundo cultural, social e até religioso, também nos Açores.

A verdade é que, se o calendário católico rege e marca a vida dos açorianos, também é certo que o Catolicismo, nestas ilhas, também está exposto às mesmas influências e alterações que afetam o fenómeno religioso, como em quaisquer outros lugares. Tratando-se de uma população maioritariamente católica, também nos Açores, se assiste ao decréscimo da prática religiosa, à ocorrência da indiferença e à adoção de posicionamentos, modos de pensar e de viver em consonância com as influências do tempo presente. Nada que não possa ser encarado como o desafio a um esforço de adequação da pastoral da Igreja nos Açores aos novos tempos e problemas, tornando-se sempre mais próxima das pessoas nas diferentes ilhas, com especial atenção às novas circunstâncias dos tempos e, se necessário, ousando partir por caminhos novos “conforme o Espírito lhe permita” avançar.

 

Padre Cipriano Pacheco, Membro do Conselho Episcopal da Diocese de Angra

 

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