Fátima: «Nova cultura» em tempos de crise

Responsáveis sublinham dimensão materna e feminina oferecida pelo Santuário ao mundo atual

Fátima, Santarém, 12 mai 2012 (Ecclesia) – O bispo de Leiria-Fátima defendeu hoje a necessidade de uma “nova cultura” perante o atual momento de crise internacional, lamentando a excessiva preocupação com “os mercados”.

D. António Marto, que falava aos jornalistas na apresentação da peregrinação anual de maio ao Santuário de Fátima, disse que este local é uma “pátria espiritual do coração humano”, na qual se mostra que “não bastam as leis do mercado”, porque “a humanidade não foi criadas para servir os mercados”.

O “santuário de paz”, acrescentou, vai lembrar em particular as “zonas de conflito doloroso e mesmo trágico”, em particular a Síria e vários países africanos, incluindo a Guiné-Bissau.

O prelado falou de um “mundo ferido e vulnerável, marcado por uma cultura do desencanto, esgotada”, a que contrapôs Fátima como “lugar de encontro, de comunhão, não só das pessoas, mas também de culturas, unidas todas pela beleza da celebração da mesma fé”.

A peregrinação internacional de maio é este ano presidida pelo cardeal Gianfranco Ravasi, responsável máximo do Conselho Pontifício para a Cultura (CPC), organismo da Santa Sé, e tem como tema ‘Eis a serva do Senhor’.

O cardeal italiano revelou, na conferência de imprensa, a sua intenção de aludir à figura da “feminilidade”, da “mulher no interior da cultura católica”, um tema com “desenvolvimentos cada vez mais complexos”.

Falando de Fátima como “lugar materno da cultura contemporânea” – expressão que tinha sido citada pelo bispo de Leiria-Fátima -, D. Gianfranco Ravasi evocou Goethe e Nietzsche para sublinhar a importância do cristianismo na cultura europeia.

O presidente do CPC disse que “Fátima deve ser considerada como lugar de fé e também como um lugar de cultura”, porque esta “não é apenas a produção artística, mas é também a experiência de um povo”.

“Uma experiência como aquela que se vive através das velas, símbolo de luz, através dos lenços, símbolos brancos, através da procissão ou da peregrinação, também são símbolos de cultura”, precisou.

Neste contexto, o cardeal Ravasi sublinhou a necessidade de repensar a questão da “comunicação da fé”, que é feita em lugares como Fátima ainda de “maneira tradicional”.

“Temos de começar a recordar que existe outra via, que a da comunicação informática”, declarou o responsável, ele próprio um utilizador habitual da rede social Twitter, onde tem cerca de 20 mil seguidores.

“O modo de comunicar a fé deve ter uma nova gramática, para além do modo tradicional”, acrescentou, convidando à presença dos santuários e das dioceses católicas na internet.

O membro da Cúria Romana frisou também a importância dos santuários como lugares de peregrinação, referindo que “o mundo atual vive quase sempre em lugares de dispersão, nos quais domina a palavra múltipla, que já não tem consistência”.

Segundo o cardeal, cada peregrino deveria promover “uma operação de mudança profunda, em particular através do silêncio, do silêncio ‘branco’, que não é apenas a ausência de palavras, mas a interioridade”.

OC

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