Eloquência do silêncio

Rui Osório, jornalista e pároco da Foz do Douro

Bento XVI, ao propor o tema “Silêncio e palavra: caminho de evangelização”, para o próximo Dia Mundial das Comunicações, introduz na moderna cultura digital uma regra de ouro: não basta ter que dizer; é importante saber ouvir.

Silêncio e palavra, como diz o Papa, são “dois momentos da comunicação que se devem equilibrar, alternar e integrar entre si para se obter um diálogo autêntico e uma união profunda entre as pessoas”.

Sem a eloquência do silêncio, as palavras perdem conteúdo e os interlocutores ficam-se pelo diálogo de surdos.

As modernas tecnologias geram novos comunicadores. É insuficiente dizer que a comunicação supõe mensagem, quem a divulgue e quem a receba. A comunicação hoje é interativa e os promotores como os recetores coexistem na mesma pessoa. A coexistência nem sempre é pacífica, quer pela falta de estatuto para os novos “jornalistas”, que nem sequer precisam de ser profissionais, quer pelo reconhecido défice deontológico que os deixa à solta, alheios ao respeito da liberdade e da responsabilidade.

Os frequentadores obsessivos das redes sociais cedem facilmente ao narcisismo na procura de amigos para compensar os traumas da sua solidão. Narciso não é agora quem se ama muito, mas quem sofre de reconhecidas carências.

Em contraponto, também surgem os “social media sceptics” (os céticos das redes sociais). Temem que elas apenas façam circular, com muito ruído, o que no humano é mais repetitivo, banal e angustiante, ou seja, muitas solidões, pobreza de afetos e autismo compulsivo.

A palavra tem necessidade do silêncio para ganhar expressividade. Diz o Papa, com oportunidade: “Quando as mensagens e a informação são abundantes, torna-se essencial o silêncio para discernir o que é importante daquilo que é inútil ou acessório”. E insiste, pedagogicamente: “É necessário criar um ambiente propício, quase uma espécie de ‘ecossistema’ capaz de equilibrar silêncio, palavra, imagens e sons”.

A cultura digital não precisa apenas de tecnocratas, mas de quem a humanize com sabedoria, conjugando, com elevação cultural e espiritual, a beleza da palavra com o encanto do silêncio.

Na antiga como na nova evangelização, não é aconselhável opor ação à contemplação. Exige-se, isso sim, que os agentes pastorais sejam ativos na contemplação e contemplativos na ação. Também convém que os agentes da nova evangelização aprendam a ouvir Deus no silêncio para que, evangelizados, sejam evangelizadores, trocando, com peso e medida, palavras e silêncios com os destinatários da mensagem.

Deus queira que os cristãos jamais comuniquem a outros a Palavra de Deus sem a escutar no silêncio contemplativo, atentos aos sinais dos tempos e ao modo como as pessoas se dão ao diálogo para que se faça luz.

Quem diz comunicar com Deus a quem não vê e não escuta os irmãos a quem vê, é mentiroso. Gravemente mentiroso se isso acontecer nas antigas como nas novas modalidades da comunicação social.

Rui Osório, jornalista e pároco da Foz do Douro

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