Madeira: Bispos católicos chegaram a ser comandantes militares

Espiritualidade, arte, política e comércio marcam 500 anos da história da Diocese do Funchal

Funchal, Madeira, 24 abr 2012 (Ecclesia) – Os 500 anos da Diocese do Funchal, que se assinalam em 2014, abarcam vários casos em que a Igreja Católica ultrapassou o âmbito espiritual e se colocou ao serviço das populações, por exemplo na defesa militar do arquipélago.

Os bispos do Funchal acumularam “muitas vezes” os encargos pastorais com as funções de governo político, chegando mesmo a ser “comandantes militares”, afirmou o historiador José Eduardo Franco ao programa 70X7 transmitido este domingo na RTP-2.

“Foi o primeiro território descoberto oficialmente no contexto das viagens marítimas portuguesas”, o que faz do Funchal uma diocese com “uma história extraordinária”, embora “muito pouco conhecida, começando pelos próprios madeirenses e pelo próprio clero”, considera.

Maria Paredes, do Arquivo Regional, sublinha que “a intervenção da Igreja foi total em todas as áreas da vida económica, social e política”, especialmente nas primeiras décadas da colonização, facto que leva o investigador universitário Nelson Veríssimo a concluir que “a história da diocese é um capítulo fundamental da história da Madeira”.

O cristianismo, inicialmente marcado pela espiritualidade franciscana, cruza-se com a arte, a devoção e o comércio, como explica Luiza Clode, diretora do Museu de Arte Sacra do Funchal, que realça o papel do rei D. Manuel I.

[[v,d,3081,]]Além de ter subsidiado a construção da sé, o monarca enviou 20 peças de ourivesaria para a ilha, de que subsistem quatro, entre as quais a cruz processional, exposta no museu que também se distingue pela coleção de pintura flamenga dos séculos XV e XVI, no âmbito do comércio estabelecido em torno do ‘ouro branco’, o açúcar produzido na Madeira.

A relação da ilha com o cristianismo é anterior à constituição da diocese, como se comprova pelo facto de Gonçalves Zarco (c. 1390 – 1471), navegador escolhido pela Coroa para povoar e administrar o Funchal, frequentar a igreja de Nossa Senhora da Conceição de Cima, recorda a irmã Isabel Gouveia.

A religiosa da Congregação das Franciscanas Missionárias de Maria assinala ainda que o filho mais velho de Zarco mandou construir o Convento de Santa Clara, inaugurado em 1497 e encerrado em 1890, após a morte da última religiosa, no seguimento do decreto de extinção das ordens religiosas.

A diocese criada pelo Papa Leão X com a bula ‘Pro excellenti praeeminentia’, de 12 de junho de 1514, que desligava o novo bispado da jurisdição da Ordem de Cristo, compreendeu durante cerca de meio século todos os territórios a descobrir pelos portugueses na África, Brasil e Ásia.

“Sabendo nós que os bispos não iam ao Funchal, desconhecem-se quais as estruturas diocesanas que foram instaladas”, estando também por estudar a relação entre o prelado e os padres que ocupavam posições nas feitorias e fortalezas ultramarinas, diz João Paulo Oliveira e Costa, presidente da Comissão Científica do Congresso ‘500 Anos da Diocese do Funchal’.

O evento que de 18 a 20 de setembro de 2014 se propõe estudar o tema “A primeira diocese global: história, cultura e espiritualidades’, “vai chamar a atenção para o papel histórico que a Madeira teve em termos da evangelização no mundo criado pelos europeus”, refere Alberto Vieira, do Centro de Estudos de História do Atlântico.

70X7/RJM

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Agência ECCLESIA

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