Homilia do bispo de Viseu na celebração da Paixão do Senhor

Sexta-feira Santa 2012

Da Cruz, Jesus abraça todos os humanos

Sexta-feira Santa, dia de olharmos a Cruz como sinal de vida, de esperança e de amor e como meio universal de salvação. A Cruz – vergonha, escândalo e ignomínia para os judeus e loucura para os gentios – é agora, para todos os cristãos e todos os que acolhem e aceitam o amor de Deus, sinal e meio de salvação.

Sexta-feira Santa é, em Jesus Cristo, o dia de especial amor e solidariedade para com todos os seres humanos. O dia de olharmos as razões e as circunstâncias que fazem sofrer e agravam a condição humana, sobretudo, daquelas pessoas mais sofredoras, mais esmagadas, mais oprimidas e menos reconhecidas na sua dignidade. Jesus Cristo assumiu a sorte de todos nós e pagou por todos o preço da vida. Olhando- O na Cruz, sentimos que Ele nos abraça e que quer abraçar o mundo inteiro, não para sofrermos com Ele mas para nos dizer que, n’Ele, estamos salvos e que a medida e o preço que nos eram exigidos pelos nossos pecados estão superados infinitamente.

Entre a profecia de Isaías que nos descreve o amor de Deus que não conhece limites e a leitura da Paixão e da morte deste Deus que Se tornou humano para nos apanhar e nos unir a Si e nos levar a Deus Pai, temos uma profunda meditação na Epístola aos Hebreus. É bela a reflexão feita por este Autor e posta, pela Igreja, neste dia de Sexta-feira Santa, ao celebrarmos a morte do Senhor. Este Autor já sabia e já tinha testemunhado a Ressurreição. Convida-nos a permanecer “firmes na profissão da nossa fé”, dado que temos um “sumo-sacerdote que penetrou os Céus” – Jesus, Filho de Deus. É uma vantagem e uma graça para nós, pois Ele conhece e compadece-se das nossas fraquezas. De facto, a participação nas celebrações da Páscoa – no Tríduo Pascal ou em qualquer domingo – é uma questão de fé. De fé, enquanto comunhão com Jesus, Filho de Deus; de fé, enquanto relação de amor, de esperança e de confiança na Palavra do Senhor; de fé, enquanto anúncio da morte do Senhor e proclamação da Sua Ressurreição; de fé, enquanto pedido para que Ele venha de novo, a nós e ao mundo, porque a todos os que O recebem, Ele dá o poder de se tornarem filhos de Deus; de fé, enquanto nos tornemos construtores do novo Céu e da nova terra, implementando a paz, a justiça, a verdade e o amor.

Firmes na fé em Jesus Cristo, nossa Páscoa, aceitemos o convite da Epístola aos Hebreus: “vamos, cheios de confiança, ao trono da graça, a fim de alcançarmos misericórdia e obtermos a graça de um auxílio oportuno”. Como termina o texto proclamado, Ele “tendo atingido a sua plenitude, tornou-Se, para todos os que Lhe obedecem, causa de salvação eterna”. Na verdade, Jesus morreu por nós todos e pelos seres humanos de todos os tempos, para dar vida nova a todos os que vêm a este mundo.

Não somente a cada pessoa, individual e privadamente considerada, mas a todas as instituições que integram as pessoas e que são formas associadas de vida e de ação, sejam instituições familiares, religiosas, culturais, políticas ou económicas. Todas estas associações de pessoas devem ser expressão de vida, de justiça, de verdade, de amor, de realização integral. Será isto o que se passa na Igreja e na Sociedade que somos e formamos? Não haverá muito mais a fazer, por cada cristão e pelos cristãos em Igreja, para que a Páscoa se torne, mais e mais, sinal de salvação e de vida nova, sinal de fé, de esperança e de amor?

É por tudo isto que a Cruz de Jesus não pode nem deve ser privatizada e escondida. Ela continua a precisar de marcar a cultura e a arte do nosso tempo e da nossa sociedade, tão esquecida dos valores que estão em crise e que são meios para sair de tantas crises na sociedade atual… É por tudo isto que o domingo precisa de ser revalorizado como o primeiro dia da semana, como o dia do Senhor, o dia da comunidade, o dia da festa, o dia da família, o dia da vida, o dia do amor fraterno. É para tudo isto que a Páscoa continua e é celebrada na Igreja como o centro, o cume e a fonte da vida cristã e a Eucaristia é a Páscoa em cada domingo. É por tudo isto que, como os primeiros cristãos, também nós não podemos viver sem o domingo, dado ser o dia que nos alimenta e nos faz viver, como cristãos, como filhos de Deus e como irmãos, uns dos outros.

Que o gesto de adoração da Cruz de Jesus, que agora vamos fazer, exprima todo o nosso amor e gratidão à Páscoa, mas, também, a nossa firme determinação de ajudarmos a espalhar as sementes que brotam da árvore da Cruz que é árvore da vida. Que essas sementes, com a nossa colaboração, germinem, cresçam e produzam abundantes frutos para a vida do mundo. AMEN

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