Igreja/Coimbra: Bispo diz que «civilização paroquial» terminou

D. Virgílio Antunes lembra outras formas de pertença à comunidade

Coimbra, 02 abr 2012 (Ecclesia) – O bispo de Coimbra encerrou o ciclo de conferências quaresmais da paróquia de São José, nessa cidade, afirmando que a Igreja Católica deve estar “consciente de que a civilização paroquial terminou”.

Na sua preleção, enviada hoje à Agência ECCLESIA, D. Virgílio Antunes disse aos participantes que, atualmente, “há outros modelos de adesão à fé cristã e de pertença à comunidade eclesial”.

O prelado começou por referir que pode parecer “anacrónico falar de paróquia nos dias de hoje” porque a vida “não é paroquial, nem nos pequenos aglomerados, nem nas vilas ou cidades, onde o campanário é uma marca cada vez menos significativa e onde a realidade já não gravita à sua sombra”.

De um ponto de vista arquitetónico, D. Virgílio Antunes considera que “é interessante visitar” algumas das grandes cidades, onde “o volume das igrejas ou a altura das suas torres foram completamente ultrapassados pelos grandes edifícios de todo o género e pelos arranha-céus”.

As igrejas modernas “já não apresentam as marcas tão vincadas da arquitetura sagrada e confundem-se facilmente com outro tipo de construções públicas ou privadas”, referiu o bispo de Coimbra, na conferência proferida esta quinta-feira.

“Há um certo complexo religioso que leva a procurar formas discretas, com a finalidade de não causar afronta aos ateístas militantes ou aos que professam outros credos religiosos”, acrescentou.

Este responsável reconhece que houve “uma diminuição da importância dos dinamismos paroquiais na vida das pessoas, das famílias, da sociedade e da Igreja” onde o sinal “mais evidente é a diminuição da prática religiosa, concretamente a diminuição da participação na missa dominical, mas também a diminuição do número de batismos e matrimónios católicos, da frequência da catequese e das aulas de Educação Moral e Religiosa”.

Segundo o bispo de Coimbra, além destes “índices objetivos e contabilizáveis”, há uma outra área “que não é calculável, embora com fortes indícios de mudança: os valores que orientam a vida das pessoas e das famílias não são, em grande parte, os representados pela comunidade paroquial – entenda-se, eclesial”.

Num “mundo secularizado”, o prelado realça que é importante “clarificar o significado da palavra esperança, pois não parece tratar-se propriamente da virtude teologal da tríade da doutrina cristã”.

Quando se “fala de esperança em tempos de crise”, acentua-se sobretudo “a capacidade humana de resistir diante das tentações de desanimar face às grandes dificuldades que advêm da situação presente”, disse.

A este nível a paróquia pode fazer alguma coisa, pois tem “alguma capacidade para ajudar a despertar nas pessoas sentimentos de fraternidade, solidariedade e caridade”, adianta.

As conferências quaresmais deste ano na paróquia de São José tiveram o seu início a 1 de março com a presença de António Barreto e contaram também com preleções de José Souto Moura, D. Manuel Clemente e do padre Lino Maia.

LFS

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