Bento XVI/Cuba: Papa pede mais liberdade para a Igreja e defende necessidade de mudanças

Homilia final da visita ao país lembrou «dignidade inviolável do ser humano»

Havana, 28 mar 2012 (Ecclesia) – Bento XVI apelou hoje à liberdade religiosa em Cuba, na missa final da sua visita de três dias ao país, afirmando que esta ilha precisa de mudanças e “transformação social”.

“Cuba e o mundo precisam de mudanças, mas estas só terão lugar se cada um estiver em condições de se interrogar acerca da verdade e se decidir a enveredar pelo caminho do amor, semeando reconciliação e fraternidade”, declarou, perante centenas de milhares de pessoas reunidas na Praça da Revolução, um local emblemático da capital cubana, onde decorrem as grandes concentrações do regime comunista.

Numa homilia de 15 minutos, Bento XVI falou da “dignidade inviolável do ser humano” e deixou um convite ao diálogo entre crentes e não crentes em volta do “património ético que pode aproximar todas as culturas, povos e religiões”.

O Papa evocou, a este respeito, a figura do padre Félix Varela (1788-1853) professor, escritor, filósofo e político cubano cujo processo de beatificação se encontra em estudo no Vaticano.

“O padre Varela indica-nos o caminho para uma verdadeira transformação social: formar homens virtuosos para forjar uma nação digna e livre, já que esta transformação dependerá da vida espiritual do homem”, referiu, citando um dos precursores do movimento independentista de Cuba.

Entre as pessoas presentes na Praça da Revolução encontra-se o presidente cubano, Raúl Castro, que já se reuniu em privado com o Papa e esteve com Bento XVI na cerimónia de boas-vindas e na missa celebrada, segunda-feira, em Santiago de Cuba.

Após elogiar os passos que se têm dado neste país para que a Igreja “cumpra a sua irrenunciável missão de anunciar, pública e abertamente, a sua fé”, Bento XVI dirigiu-se às “instâncias governamentais” cubanas para declarar que é ainda preciso “seguir em frente” em áreas como o ensino ou a presença dos católicos na sociedade.

“O direito à liberdade religiosa, tanto na sua dimensão individual como comunitária, manifesta a unidade da pessoa humana, que é simultaneamente cidadão e crente”, assinalou Bento XVI, sublinhando que não pretendia “reclamar qualquer privilégio”.

“É essencial que ela [a Igreja Católica] possa contar com a liberdade religiosa, que consiste em poder proclamar e celebrar mesmo publicamente a fé”, disse.

O Papa afirmou que “não é a irracionalidade que promove a fé cristã, mas a ânsia da verdade”, convidando a seguir essa verdade “mesmo correndo o risco de enfrentar sacrifícios”.

“Deus nunca abandona os seus filhos, nunca os esquece”, observou.

A homilia papal admitiu, no entanto, que alguns interpretam mal esta busca da verdade, o que os leva “à irracionalidade e ao fanatismo”, pelo que se “fecham na ‘sua verdade’ e tentam impô-la aos outros”.

Bento XVI criticou ainda o ceticismo e o relativismo, que disse produzirem “uma transformação no coração, tornando as pessoas frias, vacilantes, distantes dos demais e fechadas em si mesmas”.

O Papa e os participantes rezaram, em seguida, pelos que “dirigem os destinos das nações”, para que “favoreçam sempre a justiça, a paz, o desenvolvimento e a fraternidade entre todos os povos”.

A despedida e discurso final de Bento XVI em Cuba vão iniciar-se às 16h30 no aeroporto da capital, meia hora antes da partida para Roma, onde o Papa deve chegar às 10h15 de quinta-feira (menos uma em Lisboa), 22 mil km após o início da viagem.

OC

Notícia atualizada às 16h19

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