Pastoral Juvenil em Portugal

D. Ilídio Pinto Leandro, vogal da Comissão Episcopal Laicado e Família

Algumas perguntas deveremos fazer – todos os agentes da pastoral, na ação da Igreja em Portugal – para definirmos este título: o que é a Pastoral Juvenil? Como está organizada nas Igrejas de Portugal e que coordenação nacional? Queremos uma pastoral de projeto ou uma pastoral de acontecimentos e de festas? Serão, uma e outra, contraditórias ou podem unir-se e serem, juntas, complementares? Como deve funcionar a pastoral dos jovens a nível nacional, nas dioceses, nos grupos, nas obras e nos movimentos mais representativos?

Não vou responder a estas questões. Vou, apenas, fazer algumas reflexões a partir do que existe, tentando perspetivar algumas soluções que, ou estão a ser praticadas ou podem ser procuradas como caminhos a descobrir ou a prosseguir. Começo por refletir um pouco sobre a mais válida experiência atual, já com mais de 25 anos.

 

1. As Jornadas Mundiais da Juventude

Se quisermos uma referência de Pastoral Juvenil nos últimos anos, pensemos nas Jornadas Mundiais da Juventude: na sua intuição, na sua proposta, na sua metodologia, na sua realização e nas suas consequências. O Papa João Paulo II lançou este caminho e, sem dúvida, elas mostram-nos um projeto completo e não somente acontecimentos anuais, festivos e desligados uns dos outros. Partem de um desafio e apelo pastoral; este é refletido e proposto como caminho e com etapas de formação; convidam à reflexão, à partilha e à ação em grupo; têm continuidade e ligação entre elas; com um itinerário a viver em comunhão, propõem valores e apontam consequências na vida pessoal e comunitária; despertam para a celebração e para a festa, comunicando valor e sentido; pela sua metodologia e sequência, envolvem a todos na preparação, no envio, na realização e nas dinâmicas subsequentes.

As JMJ são verdadeiros acontecimentos que mobilizam a nível nacional e diocesano, realizam-se para além da semana do encontro e não são exclusivas para os que nelas participam. Envolvem todos os que aceitam o projeto, desde o início e, embora muito importante, a vivência da semana é uma celebração que também pode e deve ser partilhada em acontecimentos alternativos. Aliás, temos que aprender – bispos, padres, animadores, catequistas, responsáveis de grupos e de movimentos – todos temos que aprender a metodologia e o envolvimento das JMJ. Elas conseguem apresentar Jesus Cristo como Alguém que vale a pena e dá sentido e respostas, abrindo a uma relação em caminho de fé. Importa que haja outros momentos, lugares, circunstâncias e oportunidades onde a relação de fé com a Pessoa de Jesus Cristo se torne positiva, festiva, empenhativa, continuada, a valer a pena e a merecer atenção e atração.

 

2. O que é a Pastoral Juvenil?

É a vida e a experiência de Igreja vivida pelos jovens que encontram essa oportunidade e razões nos contactos que fazem e nos encontros que vivem, diariamente, com as pessoas ligadas à Igreja. Os jovens procuram, mesmo que o não manifestem, uma experiência forte de relação que lhes transmita alegria, esperança, confiança, aventura e paz. É necessário que as pessoas que eles encontram, com a “marca” Igreja, sejam referências de valores semelhantes ou relacionados e, sobretudo, sejam pessoas alegres, felizes, fiáveis e cheias de confiança e esperança na vida e nos outros. Importa que o encontro celebrado entre alguém da Igreja e os jovens deixe sempre a convicção de que a pessoa é sincera e coerente e que vale a pena levá-la a sério e acreditar no que ela vive. Significa isto que nascerá nos jovens o desejo de “tocar” as fontes e as causas daquela vida e de “ouvir”, “conhecer” e “seguir” o Profeta daquela mensagem. Esta experiência desperta curiosidade, estimula a vontade do reencontro e dá razões e conteúdos para a reflexão e para a procura.

A Pastoral Juvenil, mais do que uma sequência de momentos ou de atividades e festas, é uma relação de pessoas e uma renovação de encontros, sempre e todos com referência à Pessoa de Jesus que Se torna o Mestre daquelas experiências e o Amigo daquelas relações. Por isso, os convites, os encontros e os temas para cada experiência de Pastoral Juvenil devem ter sempre, no centro, a Pessoa e a Palavra de Jesus e deixar algum desafio que aproxime dele.

 

3. As estruturas da Pastoral Juvenil

A Pastoral Juvenil desenrola-se ao ritmo da vida – ainda que com tempos e momentos especiais – e vive-se nas relações dos jovens com os membros do grupo; nas suas relações diárias com os momentos e os acontecimentos, os mais diversos; nos seus encontros diários com os outros (sobretudo jovens) e com os seus animadores.

Há determinadas estruturas que importa equacionar e que devem funcionar em harmonia, sem nunca se atropelarem ou anularem e sem se tornarem asfixiantes ou insignificantes. As principais são:

Diocese. A primeira dimensão de atividades, de reflexões e de ação da/para a Pastoral Juvenil, como um projeto integral, é a diocese. Esta é a Igreja Local e é esta que deve ter um projeto organizado e completo para a vida e a formação dos jovens. Este projeto deve ter em conta o Plano Pastoral respetivo, a proposta que é indicada pela Santa Sé, a orientação coordenada (encontros e, sobretudo, acontecimentos nacionais) do Departamento Nacional da Pastoral Juvenil (DNPJ) e o caminho programático que a diocese está a querer percorrer com os jovens. É aqui que estes são chamados a viver a sua relação com a Pessoa Jesus Cristo, na Comunidade cristã onde estão inseridos – diocese, paróquia e grupo.

Também é na diocese que os jovens, inseridos em algum movimento, obra, carisma ou estrutura juvenil, devem integrar a sua experiência pessoal e comunitária. Individualmente, ou em grupo isolado, ninguém realiza uma experiência eclesial completa nem tem a autêntica dimensão da eclesialidade, pois não se abre à universalidade da vocação e da missão nem à catolicidade da mensagem libertadora do Evangelho. Embora as Congregações e os Movimentos tenham uma ligação carismática supra dioceses, é em cada diocese que devem fazer a unidade da formação, do trabalho e da ação pastoral juvenil: no diálogo, na entreajuda e na partilha de experiências, a partir de um projeto de unidade que é feito pelo Plano Pastoral Diocesano. Este plano de unidade deve ser refletido no Conselho Diocesano de Pastoral Juvenil, que deve ter a representação de todos estes setores. À Pastoral Juvenil na diocese cabe, também, ter um plano de formação de animadores e uma proposta de formação cristã organizada, tendo em conta ofertas de primeiro anúncio, de iniciação cristã e de catequese, consoante os casos, contando com a colaboração dos diversos carismas.

Departamento Nacional da Pastoral Juvenil. A comunhão é uma nota fundamental da Igreja de Jesus Cristo, reencontrada pela Lumen Gentium, no Concílio Ecuménico Vaticano II. Sem destruir, anular ou subalternizar a autonomia das Igrejas Locais, o DNPJ – unido às dioceses, através dos encontros com os Secretariados Diocesanos e a estes e aos grupos, movimentos e obras, através do Conselho Nacional da Pastoral Juvenil – promove a unidade, estimula o entusiasmo do caminho conjunto, organiza atividades celebrativas, dinamiza a formação dos responsáveis e animadores e estimula o crescimento de todos.

Tal como em relação às dioceses, também os grupos, movimentos e obras devem ter a autonomia necessária para serem diferentes e poderem enriquecer os jovens e as Igrejas com as diferenças próprias, mas estas diferenças devem entender-se sempre como a vida dos membros no corpo, iluminada pela riqueza evangélica da alegoria da videira.

Paróquias, grupos, obras e movimentos. A estes cabe concretizar as propostas, planos e sugestões que vêm da diocese e/ou do DNPJ, de forma criativa, entusiasta e mobilizadora, acrescentando e valorizando com o carisma próprio de cada um. Cabe, aos seus animadores, fazer um acompanhamento pessoal, espiritual, formativo e vocacional de todos e de cada jovem. É essencial que estes animadores possuam alma e coração que os faça viver e testemunhar a firmeza da Fé, a alegria da Esperança e a generosidade do Amor em Jesus Cristo, de modo a que os outros creiam.

D. Ilídio Pinto Leandro, bispo em Viseu, vogal da Comissão Episcopal Laicado e Família

 

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