Simpósio internacional mostrou que o fenómeno se estendeu a países dos vários continentes
Roma, 09 fev 2012 (Ecclesia) – Os custos financeiros que a Igreja Católica teve de suportar por causa dos abusos sexuais praticados por membros do clero ou em instituições eclesiais ultrapassam os 2000 milhões de dólares (1500 milhões de euros).
A revelação foi feita esta quarta-feira durante um simpósio internacional de quatro dias sobre o tema, que hoje se conclui em Roma.
Segundo Michael Bemi, presidente do grupo ‘The National Catholic Risk Retention’, e Patricia Neal, diretora da organização católica ‘Virtus’, os custos são relativos a situações ocorridas em países como a Alemanha, Áustria, Austrália, Bélgica, Brasil, Canadá, Chile, Holanda, Índia, Irlanda, Filipinas e Suíça, para além de algumas nações africanas.
Só nos Estados Unidos da América, a crise provocada pelos casos de abusos sexuais de menores terá custado à Igreja Católica mais de 500 milhões de dólares (acima dos 375 milhões de euros), embora os relatores considerem que este é o “menos importante” dos custos que estas situações acarretam.
Em causa, assinalaram, estão “milhares de vítimas”, os “danos emocionais” nas suas famílias, o “fardo do escândalo” sobre padres e religiosos inocentes, o abandono dos fiéis ou a “diminuição da autoridade moral” da Igreja.
O simpósio internacional ‘Rumo à cura e à renovação’ reúne representantes de 110 conferências episcopais, incluindo a portuguesa, e 30 ordens religiosas.
A iniciativa é organizada pela Universidade Pontifícia Gregoriana, da capital italiana, contando com o apoio da Santa Sé, em particular da Congregação da Doutrina da Fé (CDF), que em 2011 solicitou aos episcopados católicos de todo o mundo a elaboração de diretivas próprias para tratar os casos de abusos sexuais, a serem entregues até final de maio.
Os participantes foram convidados para uma missa, esta quarta-feira, sob a presidência do futuro cardeal Fernando Filoni, prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos, organismo da Santa Sé.
Na sua homilia, o prelado afirmou que o simpósio “confirma o compromisso da Igreja universal na tutela contra todos os abusos das pequenas vítimas e das pessoas vulneráveis”.
“Pretende-se combater e limitar um fenómeno tão execrável, ainda mais se cometido por homens e mulheres da Igreja”, referiu.
Esta manhã, o arcebispo de Manila (Filipinas), D. Luis Antonio Tagle, falou da situação na Igreja asiática, sublinhando que “a inação, mudando apenas os sacerdotes de lugar, e a insensibilidade para com as vítimas comprometem a integridade” dos responsáveis católicos.
Segundo o prelado, dado que os católicos são “uma pequena minoria na maioria dos países asiáticos”, os casos apresentados até hoje são “poucos” em relação a outros continentes, o que não implica que se deixem de “formular orientações pastorais”.
Numa alusão às acusações de silêncio ou negação, por parte das Conferências Episcopais da Ásia, o arcebispo filipino disse que estas “começam a abordar os casos de abuso sexual e conduta sexual imprópria por parte do clero”, apesar da cultura de “vergonha” que pode impedir muitas vítimas de se manifestarem.
Durante os trabalhos de hoje, um grupo de teólogos apresentou uma reflexão sobre os abusos de menores, observando que “a ligação entre pedofilia e celibato é menos significativa do que a ligação entre pedofilia e degradação do ambiente familiar”.
OC