Promotor de justiça recorda importância de colaboração com autoridades civis nos casos de abusos sexuais
Cidade do Vaticano, 03 fev 2012 (Ecclesia) – O promotor de justiça da Congregação para a Doutrina da Fé (CDF), organismo da Santa Sé, afirmou hoje que a “negação” dos casos de abusos sexuais na Igreja é uma forma “muito primitiva” de lidar com esta situação.
“Penso que a negação nunca será uma boa resposta; não nego que tenha existido essa negação, penso que as pessoas sabem disso, mas precisam de saber que temos de seguir em frente”, referiu monsenhor Charles Scicluna à Reuters TV.
A entrevista antecipou o simpósio sobre os casos de abusos sexuais na Igreja que vai decorrer em Roma, entre os dias 6 a 9 deste mês, com representantes de 110 conferências episcopais, incluindo a portuguesa, e 30 ordens religiosas.
Para monsenhor Scicluna, a Igreja tem enviado uma “mensagem muito clara” para que os bispos respeitem as leis civis em casos de abuso.
“Quando o crime acontece e as autoridades civis, justificadamente, pedem e requerem cooperação, a Igreja não a pode declinar. Quanto à forma de reportar [os casos], o nosso conselho é seguir a lei do país em causa”, declarou.
Antes, em entrevista à Rádio Vaticano, o promotor de justiça da CDF tinha reiterado a vontade de prevenir e erradicar estas situações, frisando que o abusosexual é “um fenómeno muito triste que não só é pecado mas também crime”.
O simpósio que se inicia segunda-feira foi anunciado a 19 de janeiro e é organizado pela Universidade Pontifícia Gregoriana, de Roma, contando com o apoio da Santa Sé, em particular da Congregação da Doutrina da Fé (CDF), que em 2011 solicitou aos episcopados católicos de todo o mundo a elaboração de diretivas próprias para tratar os casos de abusos sexuais, a serem entregues até final de maio deste ano.
As diretivas da Conferência Episcopal Portuguesa sobre esta matéria estão em fase de discussão e elaboração, referiu à Agência ECCLESIA o secretário do organismo, padre Manuel Morujão, aquando do revelação deste simpósio.
Os trabalhos, que têm como tema ‘Rumo à cura e à renovação’, vão ser inaugurados pelo cardeal William Levada, prefeito da CDF.
Após o simpósio, anuncia a organização, vai ser lançado na Internet um centro de “ensino à distância” destinado à “proteção das crianças”, englobando várias instituições, que estará operacional nos próximos três anos e terá sede em Munique, Alemanha.
Falando aos jornalistas, esta tarde, o porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi, observou que este é um “contributo específico” para ajudar a liderança da Igreja Católica a enfrentar estas situações.
No decorrer dos três dias de encontro e reflexão, à porta fechada, haverá intervenções de especialistas em psicologia, direito canónico, teologia e pastoral da Igreja Católica, bem como um testemunho de uma vítima de abusos que “falará aos delegados sobre a necessidade de escutar as vítimas e das mudanças necessárias para enfrentar melhor o problema”.
O prefeito da Congregação para os Bispos, cardeal Marc Ouellet, vai presidir a uma “vigília penitencial”, pedindo o perdão das vítimas.
As informações e reações da Igreja Católica em relação aos casos de abusos sexuais de menores por parte de membros do clero ou em instituições eclesiais são atualizadas desde março de 2010 num espaço próprio do site do Vaticano.
OC