A doença, um terreno de comunhão

O hospital, espaço “difícil” onde “todas as horas” se encontram situações de “sofrimento”, é um lugar de fragilidade e conversão onde o diálogo ecuménico faz parte do remédio para a cura ou para uma morte reconciliada com a vida.

“As pertenças a confissões religiosas diferentes não são impedimento para estarmos uns com os outros, sem impingir o que quer que seja, descobrindo que a doença é um terreno de comunhão”, disse à ECCLESIA o padre José Cruz, capelão do Hospital CUF Descobertas, em Lisboa, desde a sua fundação, há 10 anos.

A rutura dos cristãos deve-se, segundo o sacerdote, à incapacidade para aceitar a diversidade: “Só nos dividimos porque não soubemos integrar”. “Fazemo-nos notados pelas diferenças mas temos de aprender a fazer-nos notados pela comunhão”, sublinhou.

Os assistentes espirituais podem ser “uma presença de aconchego sem melindrar”: “Não tenho de invadir mas de viver o que acredito”, frisa o padre José Cruz, que também é capelão do Hospital de Santo António dos Capuchos, em Lisboa.

“Temos de ver a verdade. E a verdade maior é a do amor, que nos faz ser para todos, respeitando o seu espaço e a forma diferente de ser”, observou o sacerdote, que procura fazer “pontes” entre as pessoas de outras religiões “que estão na condição de doença” e os seus ministros.

O assistente espiritual considera que é possível “viver o culto de forma diferente mas fazer muitas coisas em comum” porque, justifica, “a unidade não é sermos todos iguais” mas viver “a unidade na pluralidade”.

O sacerdote está convencido que é preciso “banir” do vocabulário católico a palavra “seita”, designação genérica aplicada a novos movimentos religiosos, porque “nesses grupos também há pessoas boas”, embora seja preciso alertá-los “para não prometerem aquilo que não podem ou criarem teatros para iludir as pessoas”.

O padre José Cruz, que aprendeu a rezar a Ave-Maria no fim da missa com o irmão Roger, pastor protestante fundador da comunidade ecuménica de Taizé, em França, assinala que se veem hoje “mais católicos com a Bíblia na cabeceira”. E em todos os quartos do CUF Descobertas há uma Bíblia, “um livro universal”.

O capelão diz ser “possível” que Martinho Lutero, monge católico que esteve na origem do cisma do século XVI, esteja “na comunhão dos santos” por ter denunciado “o que não estava certo”.

A Igreja Católica “muito lhe deve porque a fez acordar para o essencial”, acentuou o sacerdote, que acrescentou: “Por vezes as pessoas inconvenientes numa dada hora são depois profundamente regeneradoras”.

O trabalho do padre José Cruz estende-se igualmente a quem não manifesta qualquer pertença religiosa, dado que “os não crentes também têm a sua espiritualidade”.

A “espiritualidade”, explicou, é “ter um sentido para a vida”: “Os não crentes acreditam no amor, na verdade, na justiça, na esperança, na liberdade. Tudo isto constrói a espiritualidade”.

Depois de frisar que todas as pessoas vêm “do mesmo Jesus Cristo”, o padre José Cruz fez votos para que as preces pela união das confissões cristãs sejam uma preocupação constante: “Não façamos apenas uma Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos mas façamos este caminho a cada dia”.

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