Moradores do Aleixo foram «subalternizados»

Habitantes estão «apreensivos» mas «serenos», diz pároco

Porto, 16 dez 2011 (Ecclesia) – O pároco de Lordelo de Ouro, paróquia portuense onde se localizam as torres do bairro do Aleixo, afirmou hoje que os moradores foram relegados para segundo plano quando a Câmara decidiu implodir os prédios.

“Penso que as pessoas foram subalternizadas a outros valores. E a Igreja não pode ver isso com bons olhos”, disse à Agência ECCLESIA o padre Domingos Oliveira, a propósito do destino dos terrenos onde se situam as torres, a primeira das quais foi implodida perto do meio-dia.

“Só sei o que vem nos jornais – pelos vistos é para implementar apartamentos com alguma qualidade de vida”, referiu o sacerdote, acrescentando que estão “a marginalizar-se pessoas” por causa de “interesses” que, apesar de “legítimos”, teriam de ser travados por estarem em causa “famílias que não deveriam ser obrigadas a sair”.

O sacerdote considera que com a implosão das cinco torres “perde-se um trabalho de dezenas de anos de integração das pessoas, que tinham uma relação de vizinhança umas com as outras e agora vão ser dispersas”.

“São pessoas sacrificadas porque algumas delas, as mais idosas, foram deslocadas da zona ribeirinha para o Lordelo há cerca de 40 anos, pelo que é a sua segunda deslocação a que são obrigadas”, referiu.

O responsável disse que os habitantes estão “apreensivos mas serenos” face à decisão, que também traz vantagens: “É uma nova oportunidade que se dá às pessoas para refazerem a sua vida. Elas estão com esperança de que, indo para outros locais, possam viver num ambiente mais saudável”.

“Temos de reconhecer que as pessoas estavam cansadas do ambiente do Aleixo, e foi isso que fez com que esta decisão não fosse mais contestada”, apontou o sacerdote, para quem “o problema maior” do bairro “é o tráfico e o consumo de droga”.

A paróquia de Lordelo do Ouro abrange igualmente uma área nobre, com residências de gama média-alta, mas os habitantes não se misturam: “O problema da toxicodependência mete medo a toda a gente. E por isso tem sido difícil que as pessoas com mais capacidade financeira se comprometam com aquele ambiente”.

A autarquia nunca contactou a paróquia durante o processo: “A Câmara tem os seus órgãos e as suas decisões são legítimas. Se nos quisessem ouvir, teríamos tido muito gosto em dar o nosso parecer. Nesta fase respeitamos a decisão e desejamos que as pessoas sejam ajudadas a integrar-se”.

Depois de mencionar o “esforço” do município para criar “condições” no bairro do Aleixo, “embora seja difícil, ali ou em qualquer outro local, tirar hábitos de vida”, o padre Domingos Oliveira realçou que o futuro dos habitantes deve passar pelo “associativismo”, através do qual “muitos problemas se atenuam”.

“A Câmara está a fazer um bom trabalho quando procura fomentar as comissões de moradores nos bairros para onde as pessoas agora se deslocam. Talvez seja este o caminho, para não termos daqui a algum tempo outros bairros sem saber o que se lhe hão de fazer, como a este”, concluiu.

O presidente da Câmara Municipal do Porto, Rui Rio, disse hoje que “a primeira prioridade” dos seus mandatos é “a coesão social”, especialmente ao nível da “habitação”, em que “havia muitos bairros em muito mau estado”.

Alguns estão a ser reabilitados e outros “não têm solução possível”, como é o caso do Aleixo, “menos grave” que o bairro São João de Deus, mas ainda assim “muito mau”, afirmou aos microfones da Antena 1.

Atualizada às 12h07.

RJM

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Agência ECCLESIA

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