Diáconos, serviço das mesas e rosto da Igreja

Segundo o relato do livro bíblico dos Atos dos Apóstolos, o serviço e a ação social são duas das principais áreas da missão do diaconado. O diácono permanente Lino Gomes de Campos é herdeiro desta tradição de apoio aos mais desfavorecidos: preside ao Lar das Mães Solteiras e é tesoureiro do Colégio dos Órfãos, ambos em Braga, onde se depara com “casos complicados e gravíssimos” que chegam a implicar a atuação policial, como contou à ECCLESIA.

A sua memória está marcada por uma adolescente de 13 anos expulsa da casa dos pais depois de anunciar que estava grávida, bem como pelos órfãos e crianças de meios desfavorecidos que se envolvem com a “droga”, em parte porque os pais estão “ausentes” das suas vidas.

A formação dos leigos, a assistência espiritual e a presidência de ritos litúrgicos na sua paróquia, São Tiago de Cambeses, em Barcelos, ocupam também um lugar importante na missão deste técnico oficial de contas: dirige celebrações da palavra de Deus e é diretor espiritual do movimento ‘Legião de Maria’, além de apoiar escuteiros, grupos de jovens e catequese.

Aos fins de semana acompanha o arcebispo de Braga e os bispos auxiliares nas visitas pastorais: “É muito gratificante para mim porque estou próximo dos leigos, dos sacerdotes e dos bispos. Portanto fico numa comunhão total”, refere Lino de Campos, diácono há 13 anos.

A vocação começou cedo e tornou-se mais vincada no dia em que deixou o seminário dos Franciscanos, que frequentou com vista ao sacerdócio: “Um dia hei de ser útil à Igreja”, prometeu a si próprio.

Aos 38 anos começou o “curso teológico” e logo na primeira semana foi convidado para se inscrever na formação para o diaconado permanente. A mulher e os dois filhos acompanharam desde o início os seis anos que o levaram à ordenação.

“O testemunho do diácono começa na família”, salienta Lino Campos, que tem a sua nora entre os fiéis que prepara para o sacramento do Crisma.

A gestão do tempo obedece a uma “agenda controlada”: “Na vida profissional todas as pessoas que sabem que sou diácono ficam admiradas ao ver que um homem ocupado nas contas tem tempo para servir a entidade patronal e a Igreja”.

Na caridade, na liturgia ou na formação, “o diácono é chamado a estar sempre ao serviço gratuito e disponível”, assinala.

Em muitas mesas

Tomás Ferraz Machado Lima abraçou o diaconado permanente há 25 anos, considera-se “chamado por Deus” e encara este magistério como um “sinal visível” do serviço que a Igreja Católica presta ao mundo, em “muitas mesas”, a começar pela família. “Eu sou diácono, em primeiro lugar, no meu ambiente familiar, na Igreja doméstica, hoje até como avô sou muito solicitado”, realça este bracarense de 67 anos, que há quatro décadas se mudou para Lisboa, onde desempenha atualmente funções na paróquia de Nossa Senhora de Fátima.

Nascido no seio de uma família com “uma linha católica muito convicta”, Tomás Lima chegou a estudar no Seminário da Companhia de Jesus, antes de se formar em Filosofia e Teologia, e se especializar em Ciências da Comunicação. A partir do final da década de 60, trabalhou em vários ministérios governamentais, deu aulas em universidades e dirigiu diversas bibliotecas e arquivos nacionais, tendo sido inclusivamente diretor do Arquivo Histórico do Patriarcado de Lisboa, entre 1988 e 1996.

Foi no meio de uma atividade profissional essencialmente dedicada à cultura e ao património escrito que, em 1987, recebeu “com muita humildade” o convite para ser diácono permanente. Apesar da principal “proposta” assentar na “caridade”, Tomás Lima sublinha que quem exerce esta função tem, à semelhança de qualquer cristão, de corresponder primeiro à “vocação batismal” a que foi chamado.

Seja através do apoio aos mais necessitados, da transmissão da Palavra ou da participação na eucaristia, quem está dentro da Igreja “tem de ir ao encontro do mundo, tentar despertar nos outros este dom extraordinário da fé”, realça.

Uma máxima que este diácono permanente procura pôr em prática todos os dias, especialmente junto dos mais carenciados e daqueles quem ainda não tiveram a oportunidade de descobrir Deus e os “tesouros da Igreja”.

Quanto à questão de, muitas vezes, o seu papel na paróquia se poder confundir com o do sacerdote, sobretudo ao nível da celebração dos sacramentos, Tomás Lima rejeita polémicas. “O diácono permanente tem uma função específica, não substitui o padre mas poderá ser uma ajuda importante em certos contextos”, sustenta.

Rosto da Igreja

Com 72 anos de idade, Joaquim Soares considera que o diaconado deve privilegiar “o contacto humano” e “avançar para abrir a Igreja ao mundo”. Ordenado em 1992, este reformado bancário da diocese do Porto refere que o “diácono é o rosto da Igreja que avança para a missão”, visto que, “muitas vezes, o mundo não entende o que é a Igreja”.

Andou no Seminário do Porto – onde completou o curso teológico – mas não foi ordenado padre. A vocação de ajudar o próximo não desapareceu: “Nunca me desliguei da paróquia”.

No seu testemunho de vida, este diácono permanente relata vários que lhe aconteceram: desde o “ensinar alunos” na guerra colonial da Guiné à recitação “do terço” com os soldados, passando por casos problemáticos na paróquia onde vive (Nossa Senhora do Calvário).Se em menino gostava de ajudar à missa, após a saída do seminário “o trabalho com os jovens” e “os ensaios corais” eram áreas que privilegiava.

Casado há 48 anos, Joaquim Soares tem seis filhos e 12 netos e, apesar das várias tarefas pastorais, não abdica dos “convívios familiares”. Uma família unida “que entendeu” este passo da vida de alguém que “já era diácono antes de o ser”.

A família – esposa e filhos – sempre o ajudaram e até recolhem bens “para distribuir para os mais necessitados”.

A caminho

Carlos Faria está a preparar-se para o “imenso desafio” de ser um dos dez primeiros diáconos permanentes da diocese de Viseu. O convite foi-lhe lançado pelo pároco, hoje bispo viseense, D. Ilídio Leandro.

Depois de cumprir a formação teológica falta a este professor de Educação Moral e Religiosa Católica completar as vertentes “pastoral e espiritual”, num processo que dura há dois anos e a que faltam “pelo menos” seis meses, contou à ECCLESIA.

“O mais importante tem sido a dimensão espiritual, que deve ser trabalhada profundamente” para conseguir “uma grande base” para o serviço do diaconado.

Para este leigo de 40 anos é tão importante a ação do diácono nas celebrações litúrgicas como no “serviço aos mais pobres”. Seja qual for a missão, o essencial é “estar sempre disponível e apresentar horizontes de esperança”, assinala.

A mulher recebeu o convite para o diaconado “com algumas dúvidas e incertezas”, ultrapassadas com o tempo. Carlos Faria considera que sem a aceitação e o acompanhamento da família seria “impossível” continuar o percurso.

As expectativas do grupo e dos fiéis são grandes: “Toda a diocese está com os olhos postos em nós”.

LS/RJM/LFS/JCP

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