António Avelino foi ordenado diácono permanente no dia 8 de dezembro de 2010, na diocese do Porto. Da paróquia de Caldas de São Jorge, em Santa Maria da Feira, este técnico de laboratório explica à Agência ECCLESIA o processo de discernimento para uma vocação ao serviço da Igreja que trilhou juntamente com a esposa, Inês Santos e com os seus três filhos rapazes, de nove, 11 e 20 anos
Agência ECCLESIA (AE) Como é que o diaconado permanente surge na sua vida?
António Avelino (AA) – A minha vocação foi sendo descoberta no seio de uma comunidade onde pertenço e fui percebendo que Deus me chamava para uma missão mais ministerial. Numa conversa com o responsável pela comunidade e com o bispo do Porto, D. Manuel Clemente, foi–me proposto que fizesse um percurso de discernimento e só depois, então, fui proposto ao diaconado.
Foi uma descoberta que se foi fazendo. Fui percebendo no meu dia a dia e na vida familiar, que me sentia chamado a ser diácono.
AE – Houve sinais para essa escuta?
AA – Os sinais são interiores. Senti falta de um sentido de realização pessoal.
AE – O diácono permanente é ordenado para o serviço da caridade, na liturgia e na palavra. Como concretiza estas dimensões?
AA – A questão litúrgica é muito absorvente. A falta de vocações sacerdotais tem aberto um campo que vai sendo preenchido pelos diáconos. Mas essa não esgota a nossa função. Vai sendo absorvente – a liturgia, a catequese – mas eu não me sinto chamado apenas para isso.
AE – Como tenta equilibrar as duas dimensões?
AA – Na caridade tenho a minha prática pessoal, não enquanto diácono. Nas paróquias onde estou não tenho essa ação concreta. Mas assumo a caridade na vertente do amor. Aí estou como amante seja na liturgia, na catequese, na animação.
Na dimensão sócio-caritativa, no cuidar das necessidades mais físicas, ainda não tenho prática visível. Mas estou ainda a dar passos, a situar-me nas paróquias.
AE – Foi surpreendente o desejo do seu marido estar ao serviço à Igreja desta forma?
Inês Santos (IS) – Foi uma descoberta ao longo dos anos. Foi difícil, mas a exemplo de Maria demos um sim baseado no que se intuiu sem certeza. Foi um salto no claro escuro da fé.
AA – Ela foi impulsionadora. Não foi só uma autodescoberta. Ela intuiu percebeu os sentimentos em mim e estimulou-os.
AE – Como é que os filhos foram percebendo a vontade do pai?
IS – Para o mais velho foi difícil aceitar. Estava numa fase de muita contestação e aceitar a ausência do pai foi muito difícil. Com os mais novos foi natural, embora o mais novo ocasionalmente pergunte «O pai vai ser padre? Olha que eu não quero.»
AA – Dificilmente esquecerei a expressão do meu filho mais velho no dia da minha ordenação. Ele abraçou-me e disse: «Pai, tenho contestado um bocadinho, mas eu percebo que tu és feliz aqui e conta comigo».
Eles têm percebido esta chamada vocacional. Permanecem ao meu lado, também contestando, pois querem garantir o seu tempo e o espaço, para que o pai não seja ausente.
AE – Questionam-no sobre esta ação?
AA – O mais novo disse-me um dia que não percebeu nada do que eu tinha dito numa homilia. Esta transparência das crianças ajuda-me a situar-me e a refletir no modo como estou e no que faço.
AE – Como é que a esposa acompanha e se faz presente na diaconia?
IS – Eu participo na oração e na preparação das homilias com um olhar diferente – o olhar feminino. Tento participar e enriquecer na medida em que posso, mas o meu papel é também de manutenção de equilíbrio para que o tempo familiar seja também contemplado.
AE – Este serviço une-vos como casal?
IS – Não tenho dúvida.
AA – A diaconia não é possível sem a diaconisa. Eu dou a cara, mas é mais do que uma realidade pessoal, é algo mais profundo. Há um sacramento que nos une um ao outro, que é prévio. Não podemos falar de um diácono casado que não tenha a esposa e a realidade familiar presentes, porque ela emprenha a ação do diácono.
AE – Sente que o seu papel é aproximar a Igreja dos leigos?
AA – Eu creio ser essa a minha grande missão. Gosto muito de uma expressão que D. Manuel Clemente usou uma vez: o diaconado tem a função de levar o mundo ao altar e o altar ao mundo. Eu sinto-me bem a fazer a ligação entre estas realidades.
AE – Encontra ecos dessa missão?
AA – Na minha realidade laboral é público este meu serviço. E sou muito procurado porque as pessoas querem falar e desabafar, querem perceber-se e encontrar apoio.
A nível paroquial o que me sinto bem a fazer é ser incendiário. As instituições precisam de alento e de estímulos e eu sinto-me bem assim.
AE – Na formação, o que foi essencial?
AA – A formação pessoal. Descobrir-me, o que quero, com quem vou. A formação assenta nas dimensões humana, espiritual, teológica e eclesial.
É verdade que os estudos teológicos cimentam e ajudam para a missão. Mas a formação pessoal reflete-se depois nas outras.
AE – Ajuda a estimular o contacto humano?
AA – Só sendo adulto é que posso estar na missão. A expressão paulina «adultos em Cristo» diz-me muito. E a missão faz-se assim. Não podemos ser condutores se formos cegos.
IS – É a formação humana que nos permite ter outro olhar. Olhar a pessoa e vê-la por detrás dos problemas e maus funcionamentos que apresenta. Ter um olhar amoroso de Deus, um olhar que descobre a pessoa no seu melhor e é capaz de a fazer sair de si e viver.
AE – A caridade está ai?
AA – Sim, está aqui a caridade. Nesse sentido de amor pelos outros.
IS – O carisma do António é esse. Não no apoio económico na caridade, mas de olhar para a pessoa e fazê-la viver.
LS