Há, na juventude eclesial do nosso país, verdadeiros profetas da comunicação a que importa dar asas nos novos tempos
Tinha praticamente acabado de ser ordenado Padre quando surgiu o Decreto do Concílio sobre os Meios de Comunicação Social. O próprio título era novo e pensávamos que longo e pouco fácil de divulgar e assimilar. E foi afinal o grande batismo do cinema, da imprensa, da rádio e da televisão no século XX. A expressão latina Media surge quase cinquenta anos depois quando se dá o fantástico cruzamento com as plataformas digitais que prolongam quase até ao infinito as autoestradas da comunicação do nosso tempo. Na narrativa diária do Concílio, foi meu companheiro e mais tarde colega, um jornalista e escritor espanhol, que me ensinou a ver, julgar, agir e contar factos e dizeres muito complexos, numa linguagem simples e próxima. Agradeci-lhe, por escrito, em pleno Concílio. Mais tarde cruzaram-se as nossas vidas como repórteres da mesma aventura missionária: voltados para o mundo sem ficarmos de costas para a Igreja e narrar, para além da frieza da doutrina, o acontecimento da Igreja e do mundo, ambos de Deus, recetores do Espírito, impulsionadores da história, narradores do divino no humano e do humano no divino. José Luis Martín Descalzo era o seu nome. Para mim o mais subtil e apaixonado narrador da Igreja e do mundo, o melhor cronista do Concílio que conservo religiosamente em quatro volumes, dia por dia, hora por hora. Ele já partiu mas continua testemunha do maior acontecimento da Igreja no século XX. Soube narrá-lo em análise e síntese, com os olhos e alma de quem tem uma liberdade limitada apenas pelo amor.
Lembro, já no fim dos anos sessenta, ter sido convidado para integrar o que seria o esboço duma equipa, mais tarde comissão, para as comunicações sociais. E nomes como Magalhães Mota, Avelino Pinto, Mota Amaral, Miguel Trigueiros e outros. Daí para cá não descolei desse projeto e exerci, chamado, muito convictamente a minha vocação sacerdotal com todas as maravilhas e turbulências em que a comunicação é fértil. E passado esse tempo, cá estou. Senti que era bom nalgumas áreas passar testemunho operativo aos mais novos, mesmo consciente que a criatividade nunca parte de adultos ou jovens mas da nossa atenção aos sinais dos tempos. E há, na juventude eclesial do nosso país, verdadeiros profetas da comunicação a que importa dar asas nos novos tempos. Aí estão nas frentes de vários projetos ECCLESIA com capacidade para oferecer ao Reino de Deus e ao mundo mediático o melhor do seu engenho e arte. E na barca vão timoneiros ágeis e seguros.
Nesta causa há um tempo para chegar e um tempo para partir.
António Rego