Arte: Juízo final domina pintura do Advento

Cristãos sabem não só de onde vêm mas também para onde vão, sublinha cónego João Marcos, pintor e diretor espiritual do Seminário dos Olivais, Lisboa

Lisboa, 03 dez 2011 (Ecclesia) – O tema do juízo final de Deus sobre a humanidade domina a tradição iconográfica do Advento, considera o cónego João Marcos, pintor e diretor espiritual no Seminário dos Olivais, em Lisboa.

“A Igreja espera a vinda do Senhor e a pintura por excelência é a do juízo final. Nós não vivemos apenas a partir da luz do primeiro dia; a vida do cristão está iluminada pela novidade do cristianismo, que é a revelação da vida eterna”, sublinha o sacerdote no programa ECCLESIA na Antena 1 que vai para o ar este domingo, a partir das 06h00.

O sacerdote lamenta que os quadros referentes ao encontro derradeiro e definitivo da humanidade com Deus tenham sido utilizados “de forma um bocadinho terrorista para assustar as pessoas”, quando a última vinda de Cristo é o que os cristãos desejam do “mais profundo” de si próprios.

“Eu vivo hoje não apenas porque sou uma criatura, não apenas porque sei de onde venho mas também porque sei para onde Deus quer que eu vá”, frisa o cónego João Marcos, acrescentando que a “centralidade” das imagens do juízo final está “na presença de Cristo”.

Em várias obras o lado direito representa o céu e o esquerdo ilustra o inferno, explica o sacerdote, acrescentando que algumas pinturas “sublinham quase só a condenação”, enquanto outras são “extremamente serenas”, como acontece com ‘O Julgamento das Almas’, patente no Museu de Arte Antiga, em Lisboa.

Numa pintura de Stefan Lochner, pintor do século XV, “Cristo mostra apenas as suas chagas: ou seja, o juízo final é o confronto com o amor de Deus manifestado na paixão, morte e ressurreição de Jesus”, dimensão ainda mais acentuada em Fra Angelico, aponta.

O Cristo Pantocrator [Todo-poderoso], que domina as pinturas alusivas ao último dia, é frequentemente ladeado por Maria e São João Batista, “figuras que resumem o que é a Igreja”.

“Ao centro, Deus feito homem; à sua direita, a Virgem, o seio que acolheu o Verbo de Deus, que o gerou e deu ao mundo; à esquerda São João Batista, o arquétipo do masculino, aquele que anuncia o evangelho e prepara o povo para a vinda do Senhor”, indica.

Em termos de cores a predominância vai para o “ouro, muito usado na iconografia por significar a luz do oitavo dia [sinónimo de ressurreição], e também por “destacar as formas” e fazer “resplandecer uma luz completamente diferente do que as outras cores podem dizer”.

O cónego João Marcos, que diz fazer do seu ateliê um “lugar de oração”, realça que “na Igreja é o mistério da encarnação [nascimento de Jesus] que permite a arte, sobretudo a pintura”.

“Assim como podemos fazer tratados escritos com palavras acerca de Cristo, que é o Verbo de Deus, ele é também imagem do Deus invisível”, pelo que também se pode falar dele através de “imagens”, “janelas que se abrem para o mistério” divino.

O programa ECCLESIA na Antena 1 deste domingo, dedicado à arte cristã no Advento, conversa também com o encenador e protagonistas do auto de Natal “Barioná”, escrito pelo filósofo francês Jean-Paul Sartre, que será reposto em Lisboa a partir desta quinta-feira.

O site do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura publica hoje um vídeo com excertos da entrevista ao cónego João Marcos.

PRE/RJM

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