Serviço gratuito passa mais por dar a vida do que donativos, sublinhou D. José Policarpo na abertura das segundas jornadas da Comunidade Vida e Paz
Lisboa, 18 nov 2011 (Ecclesia) – O cardeal-patriarca sublinhou hoje em Lisboa que o voluntariado requer o reforço dos laços afetivos entre pessoas indiferentes e realçou que o serviço gratuito passa mais pela oferta da vida do que por donativos.
“O grande trabalho pedagógico que temos de fazer é ajudarmo-nos uns aos outros a alargar o horizonte daqueles que são nossos próximos. A isto chama-se voluntariado cristão”, afirmou D. José Policarpo na sessão de abertura das segundas jornadas da Comunidade Vida e Paz (CVP).
“Para que alguém seja meu próximo tenho de dar-lhe um lugar no meu coração e na minha atenção”, acrescentou o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, que citou o Papa Bento XVI quando afirmou que “a caridade é um coração que vê”.
Diante de 30 pessoas reunidas no auditório do Alto dos Moinhos, o prelado realçou que “o problema da solidariedade é cultural mas também moral, porque ligado a ele está a orientação e a compreensão da existência humana”.
A opção, explicou, decide-se na prioridade ao “indivíduo, onde cada um tenta resolver-se a si mesmo”, ou à “comunidade, naquele ‘nós’ em que o cristianismo sempre insistiu e em que o bem comum é tão importante como a busca pessoal da felicidade”.
“O voluntariado teve a vantagem de sublinhar que a fraternidade e a solidariedade não consistem apenas em dar o que temos mas é fundamentalmente o dom de nós mesmos”, frisou D. José Policarpo, acrescentando: “É certo que me posso dar a mim mesmo partilhando o que tenho, mas não é automático”.
O cardeal-patriarca acentuou que “não são só os que têm possibilidades do ponto de vista material que podem ser voluntários”, dado que “quando o voluntariado é o dom da própria pessoa, os próprios pobres podem ser voluntários porque encontram circunstâncias de se darem ao seu próximo”.
D. José Policarpo alertou para o perigo de a capacitação técnica facultada no âmbito do voluntariado poder eliminar as motivações do serviço gratuito.
“Tenho notado que essa formação faz resvalar o voluntariado para um certo direito à remuneração, dado que a preparação técnica aproxima-se muitas vezes de uma habilitação profissional”, referiu, acentuando a necessidade de defender “o essencial do voluntariado como dom de si mesmo”.
O encontro promovido pela CVP, dedicado ao tema ‘Voluntariado – 23 anos a criar rumo nas vidas das pessoas sem-abrigo’, decorre até sábado.
“Não havia na Igreja em Portugal, e porventura na sociedade, nenhuma instituição com tanta autoridade para celebrar o Ano Internacional do Voluntariado como a Comunidade Vida e Paz”, referiu D. José Policarpo.
A Comunidade Vida e Paz é uma Instituição Particular de Solidariedade Social, sem fins lucrativos, nascida em 1989 e tutelada pelo Patriarcado de Lisboa, que se dedica à recuperação das pessoas sem-abrigo.
RJM/OC