Atitude dos católicos no diálogo com criadores «não pressupõe o silenciamento das diferenças e das divergências»
Lisboa, 15 nov 2011 (Ecclesia) – A Igreja tem de ser mais enérgica na apresentação à sociedade das suas posições e dialogar com o mundo cultural crente e não crente, vincam duas personalidades do pensamento católico questionadas pelo Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura.
José Carlos Seabra Pereira, professor da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, sublinha que a Igreja tem de “‘passar à ofensiva’ no debate de ideias e na manifestação de criatividade, isto é, tomar sistematicamente a iniciativa do discurso de interpelação e de proposta nos meios académicos, filosóficos, científicos e artísticos”.
Respondendo à pergunta “O que é mais importante (criar, manter, repensar) na relação da Igreja com a Cultura?”, o investigador sustenta que a Igreja é chamada a “encontrar e ativar novos e eficazes meios de visibilidade no espaço público”.
O docente assinala que é preciso “tornar efetivo e contínuo (não apenas formalmente reconhecido ou conjunturalmente solicitado pela Hierarquia) o papel dos leigos intelectuais na vida da Igreja, abrindo-lhes novos órgãos de reflexão e opinião e novos domínios de intervenção”.
No texto publicado na edição de novembro do ‘Observatório da Cultura’, José Carlos Seabra Pereira propõe “a realização (porventura em Fátima) de um grande Congresso que convocasse pensadores, cientistas, artistas, escritores e jornalistas”.
Para José Leitão “a atitude da Igreja no diálogo com os criadores culturais não pressupõe o silenciamento das diferenças e das divergências, mas deve ser marcada pelo saber escutar as críticas, as inquietações, as perguntas”.
O responsável ligado ao Centro de Reflexão Cristã defende que “o repensar da relação da Igreja com a Cultura em Portugal passa por alargar e descentralizar o diálogo com os criadores culturais, crentes e não-crentes”, estabelecendo também pontes com os emigrantes e o mundo lusófono.
A Igreja, acrescenta, deve impulsionar o “direito de todos à cultura e à sua realização prática”, promovendo em cada pessoa “a consciência do direito à cultura e do dever de se cultivar”.
“O discurso sobre a necessidade do empobrecimento num contexto de crise corre o risco de esquecer que uma coisa é ter menos recursos para gastar, outra coisa é esquecer que não só de pão vive o homem, mas precisa de sentido e beleza”, aponta.
Depois de referir que em Portugal “existem riscos sérios de subalternização da importância da Cultura e do trabalho dos criadores culturais”, José Leitão salienta que as despesas com o setor “não são gastos, são investimentos numa sociedade mais justa, humana e solidária”, além de contribuírem “para aumentar as exportações”.
Os mais de 25 depoimentos reunidos pelo Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura estão a ser gradualmente disponibilizados no seu site.
RJM