Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura considera que José Rodrigues dos Santos escreve «centenas de páginas sobre um assunto tão complexo sem fazer ideia do que fala»
Lisboa, 25 out 2011 (Ecclesia) -O Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura (SNPC) considera, numa nota divulgada no seu site e hoje publicada no semanário Agência ECCLESIA, que o romance ‘O último segredo’, de José Rodrigues dos Santos, é uma “imitação”.
O organismo da Igreja Católica dirigido pelo padre, poeta e biblista José Tolentino Mendonça fala de uma “imitação requentada, superficial e maçuda” [de outras obras] e adianta que pode “ser útil aos leitores exigentes (sejam eles crentes ou não) esclarecer alguns pontos de arbitrariedade” do romance, dado que o mesmo “tem a pretensão de entrar, com um tom de intolerância desabrida” na área “da história da formação da Bíblia”, implicando “a fiabilidade das verdades de Fé em que os católicos acreditam”.
Referindo-se a uma questão que “não se coloca apenas com a Bíblia, mas genericamente com toda a Literatura Antiga”, o documento explica que por não terem sido “conservados os manuscritos que saíram das mãos dos autores torna-se necessário partir da avaliação das diversas cópias e versões posteriores para reconstruir aquilo que se crê estar mais próximo do texto original”.
Neste sentido, é “impensável” para “qualquer estudioso da Bíblia atrever-se a falar dela, como José Rodrigues dos Santos o faz, recorrendo a uma simples tradução”, refere a nota, acrescentando que “a quantidade de incorreções produzidas em apenas três linhas, que o autor dedica a falar da tradução que usa, são esclarecedoras quanto à indigência do seu estado de arte”: “confunde datas e factos, promete o que não tem, fala do que não sabe”, esclarece.
O SNPC critica a advertência “colocada estrategicamente à entrada do livro”, a “garantir que tudo é verdade”, bem como o facto de o romancista defender “o método histórico-crítico como a única chave legítima e verdadeira para entender o texto bíblico”.
Depois de salientar que “José Rodrigues dos Santos parece não saber o que é um teólogo”, a nota do SNPC, intitulada “Uma imitação requentada”, considera “lamentável” que o autor “escreva centenas de páginas sobre um assunto tão complexo sem fazer ideia do que fala”.
O “positivismo serôdio” que José Rodrigues dos Santos levanta como bandeira fá-lo, por exemplo, chamar “historiadores” aos teólogos que pretende promover, e apelide apressadamente de “obras apologéticas” as que o contrariam», salienta o organismo integrado na Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais, presidida pelo bispo do Porto, D. Manuel Clemente.
A declaração aponta que na obra de José Rodrigues “aparecem (mal) citados uma série de teólogos, mas o mais abundantemente referido, e o que efetivamente conta, é Bart D. Ehrman”, investigador de “erudição inegável” mas que “tem orientado as suas publicações a partir de uma tese radical, claramente ideológica, longe de ser reconhecida credível”.
“O que os seus pares universitários perguntam a Ehrman, com perplexidade, é em que fontes textuais ele assenta as hipóteses extremadas que defende”, indica o texto, referindo que a comparação da obra do teólogo norte-americano “Misquoting Jesus. The Story Behind who Changed the Bible and Why” com o “O Último segredo” é “tarefa com resultados tão previsíveis que chega a ser deprimente”.
“O que a verdadeira literatura faz é agredir a imitação para repropor a inteligência. O que José Rodrigues dos Santos faz é agredir a inteligência para que triunfe o pastiche», conclui a nota.
No documento, sublinha-se que o livro “é formalmente uma obra literária”, pelo que a discussão sobre a sua qualidade “cabe à crítica especializada e aos leitores”.
SNPC/PR