Igreja/Literatura: Separação entre história e fé, tema recorrente em obras sobre Jesus

Credibilidade do cristianismo é questão fundamental para Bento XVI

Lisboa, 22 out 2011 (Ecclesia) – A separação entre história e fé, recorrente em obras sobre Jesus, tem sido sistematicamente contestada pelo teólogo alemão Joseph Ratzinger, hoje Bento XVI, para quem é fundamental defender a credibilidade religiosa e histórica do cristianismo.

Na sua obra ‘Jesus de Nazaré’, com dois volumes publicados até ao momento, o autor considera mesmo esta questão como o “ponto decisivo” da sua investigação.

“Se se pudesse de modo verdadeiramente científico demonstrar que é impossível a historicidade das palavras e dos acontecimentos essenciais, a fé perderia o seu fundamento”, observa, no seu último livro, lançado em março.

O tema volta a estar na ordem do dia com o lançamento do livro ‘O último segredo’, do jornalista e escritor português José Rodrigues dos Santos, hoje apresentado em Lisboa (ver notícia relacionada), no qual este aponta “fraudes” nos textos do Novo Testamento, os mais importantes do cristianismo.

Para Joseph Ratzinger, a história não basta: “Se a certeza da fé se baseasse exclusivamente numa certificação histórico-científica, continuaria a ser sempre passível de revisão”.

O Cristo de Joseph Ratzinger não é um revolucionário político ou um “simples reformador que defende os preceitos judaicos”, menos ainda “uma personalidade religiosa falhada”, como o próprio definiria Jesus de Nazaré, caso este não tivesse ressuscitado.

À imagem do que fizera em 2007, no primeiro volume desta obra de reflexão bíblica e teológica, Bento XVI centra-se na figura de Cristo que é apresentada pelos Evangelhos canónicos (Marcos, Mateus, Lucas e João), considerando estes livros como as principais fontes credíveis para chegar ao Jesus “real”.

Neste sentido, Joseph Ratzinger sustenta que a “fé bíblica não narra histórias como símbolos de verdades metahistóricas, mas funda-se na história que aconteceu sobre a superfície desta Terra”.

Esta verificabilidade histórica alarga-se ao início da “própria Igreja”, com Bento XVI a afirmar que a Igreja primitiva “encontrou (não inventou!)” [sic] elementos fundamentais para a sua unidade.

Logo no prefácio da obra, o Papa aponta as limitações do método histórico-crítico, uma abordagem aos textos que, através do estudo e pesquisa bíblica, procura levar em conta o contexto histórico que envolve o texto, fazendo uma avaliação crítica de todas as relações desta informação com o sentido do texto.

Para Joseph Ratzinger, essa abordagem “já deu o que de essencial tinha para dar” e considera mesmo que “o «Jesus histórico», como aparece na corrente principal da exegese crítica a partir dos seus pressupostos hermenêuticos, é demasiado insignificante no seu conteúdo para ter podido exercer tão grande eficácia histórica”.

Uma terceira parte de ‘Jesus de Nazaré’ está a ser escrita por Bento XVI, que vai abordar os chamados «Evangelhos da infância».

Toda a obra começou a ser elaborada nas férias de 2003, antes da eleição de Joseph Ratzinger como Papa.

OC

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