KISEKI, Prémio SIGNIS em San Sebastian

Este ano, o 59º Festival Internacional de Cinema de San Sebastian foi particularmente interessante, a sua seleção oficial diversificada entre temáticas e estilos, alguns bastante ousados. Das 16 obras em competição, o Júri SIGNIS escolheu premiar o filme japonês KISEKI (I WISH ou MILAGRO, nas versões inglesa e castelhana), realizado por Hirokazu Kore-Eda.

Kiseki é a história de dois irmãos, de 10 e 12 anos, que vivem separados; com o divórcio dos pais, Koichi, mais velho, ficou com a mãe, enquanto Ryunosuke, mais novo, vive com o pai.

Enquanto Koichi sonha, como a maior parte das crianças, em reunir de novo os seus pais, o irmão mais novo lembra-se claramente do mau estar provocado pelas inúmeras discussões e duvida que essa seja a melhor solução. Porém, Ryunosuke deixa-se convencer quando o irmão lhe fala de uma “crença” segundo a qual um desejo se pode realizar quando feito no ponto de cruzamento de dois comboios em andamento.

Hirokazu Kore-Eda propõe uma narrativa linear descentrada, que acaba por convergir no encontro dos irmãos para a realização do eventual milagre. Este acontece mas não da forma como tinha previsto… afinal, está em jogo perceber se a natureza de um milagre está na transformação da realidade ou na sua verdadeira compreensão, o interiorizar de uma verdade que nos permite continuar a viver e a crescer, avançando da forma mais construtiva para futuro.

O filme é uma viagem iniciática na realidade da vida que nos transmite a aceitação do que não é possível mudar, libertando-nos das ilusões que nos impedem de crescer.

Através de Kiseki, o realizador japonês mostra que o lugar da fé reside em cada ser humano, e que basta acreditar para se manifestar. Os milagres, na sua maioria, são interiores. Por isso, é preciso ouvir em silêncio o que a vida nos apresenta e deixarmo-nos levar por ela.

Mais uma vez, o cinema apresenta uma grande lição de vida, cheia de força e esperança. É libertador e enriquece a nossa procura de luz, num caminho tão misterioso.

Inês Gil
Juri Signis e enviada do Secretariado Nacional das Comunicações Sociais e da Pastoral da Cultura ao Festival de San Sebastian

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