Douro: Padres denunciam crise no setor vinícola

«Que será das pessoas nesta região?», perguntam párocos, que questionam eliminação da «função moderadora e reguladora» da Casa do Douro

Vila Real, 23 set 2011 (Ecclesia) – Os párocos dos concelhos da Régua, Santa Marta de Penaguião e Mesão Frio, no interior Norte, estão preocupados com as dificuldades dos viticultores da região e pedem a intervenção do Governo para sanear as adegas em crise.

“As duas Adegas Cooperativas da Régua e de Santa Marta de Penaguião – as maiores da Zona Demarcada do Douro – atravessam uma muito grave situação financeira, que não lhes tem permitido pagar aos associados as uvas que nelas depositaram”, escrevem os padres no comunicado enviado à Agência ECCLESIA.

Depois de sublinharem que “o cultivo das vinhas é cada vez mais caro”, os sacerdotes da diocese de Vila Real assinalam que “as pessoas não têm outra alternativa para viverem”, até porque “o tão badalado turismo contribui muito pouco ou quase nada para a melhoria económica da gente do Douro”.

“Se não se resolver o problema da produção e comercialização do vinho, que será das pessoas nesta região? Até onde irá a sua paciência? Qual a solução? O abandono puro e simples? Que futuro para as pessoas? A emigração? Ainda maior desertificação do interior do país?”, perguntam.

Ao mesmo tempo que há famílias com dificuldades para sobreviver “com tão magros recursos” e alguns associados das adegas “vão saindo sorrateiramente destas instituições”, é público “que o vinho se vende (e bem!) e que há quem faça fortuna com este produto”, acentuam os padres.

“As Adegas Cooperativas chegaram a esta situação por culpa de quem? Outras Adegas do Douro encontram-se de boa saúde e exercem normalmente e com agrado dos sócios as funções que lhes são cometidas pelos Estatutos”, referem os signatários, que apelam à intervenção do Governo.

No entender dos párocos da diocese sediada 400 km a norte de Lisboa, o Estado “não pode ser um mero espectador na livre competição entre grandes e pequenos”, devendo “não só ser árbitro, mas também intervir por si ou por meio de instituições intermédias, apoiando os mais fracos e desprotegidos”.

“Não era essa a função moderadora e reguladora da Casa do Douro? Porque lhe retiraram as atribuições que tinha?”, interrogam os sacerdotes, salientando que a “livre concorrência” na produção do vinho “tem conduzido ao esmagamento do preço para os pequenos e médios produtores e ao enriquecimento dos mais fortes e poderosos”.

O Ministério da Agricultura informou a 12 de agosto que a situação da Casa do Douro, com uma dívida de 100 milhões de euros e ordenados em atraso, “está a ser acompanhada de perto” pela ministra, Assunção Cristas, que procura “a melhor solução” a apresentar à instituição.

No comunicado divulgado esta quinta-feira os párocos pedem a criação de um “Programa de Saneamento Financeiro das Adegas em crise”: “Não poderá o Ministério da Agricultura intervir, sugerindo, aconselhando e até impondo medidas para melhor e mais eficaz administração das mesmas?”.

“E que têm a ver a Igreja e os padres com estes assuntos?”, questiona o último parágrafo do documento, que justifica a tomada de posição com um texto do Concílio Vaticano II (1962-1965).

“‘Não podemos ser alheios às alegrias e esperanças, às angústias dos homens nossos irmãos; somos solidários com todo o homem e com toda a mulher de todo o lugar e todo o tempo’, muito em especial aqueles que são de nossas paróquias”, explica o comunicado.

RJM

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