Entre outras propostas de estreias, com resultados mais ou menos credíveis para problemas que actualmente afligem o Ocidente, a questão do sentido da vida é levantada por Terrence Malick e “A Árvore da Vida. O filme faz já furor e bateu o record da velocidade entre arrecadar a Palma de Ouro em Cannes e chegar a Portugal.
É difícil classificar este filme. Porque o resultado não é um. São vários:
O primeiro, talvez, uma belíssima história de época com um muito bem conseguido retrato de uma família americana dos anos 50. Jack, mais velho de três irmãos, cresce no seio de uma família tipicamente americana, entre um pai austero, trabalhador dedicado, fiel às missas na paróquia local, que conquista e ensina a conquistar a vida a pulso; e, uma mãe dona de casa que se preocupa sobretudo em transmitir os valores do amor, da amizade, da cumplicidade entre os irmãos. Como dinâmico que é, este sistema familiar vai-se transformando e criando uma história de amor e desamor filial, paternal, fraternal; uma história de inocência e perda de inocência; uma história do bem e do mal, de culpa e de perdão; de morte e redenção.
O filme, porém não é só isto. Depois deste, outros resultados são difusos: cabe esta narrativa em, pelo menos mais duas, temporais; e numa outra, intemporal. Joga-se um jogo de prolepses e analepses de efeito discutível a que acresce ainda o ímpeto, de carácter meramente visual, de procurar, acima desta já arriscada via, tocar à viva força o intangível: acreditamos que o realizador procura explorar a questão do sentido da vida, humana e da humanidade, mas a oferta generosa e reiterada de imagens cosmológicas acaba por tornar excessivamente material o que se queria etéreo.
É de respeitar o perscrutar dum cineasta, mergulhando nas questões da humanidade. De valorizar a busca e a premiação dos temas que procuram aprofundar e não apenas iludir o que nos inquieta. Mas é difícil sucumbir a soluções espetaculares, visuais e acústicas que procuram responder ao que só encontra resposta no íntimo e indizível espaço, do Homem ou da arte. Sem elas, Malick teria, simplesmente, um bom filme!
Margarida Ataíde