Semana Santa: Paixão segundo Joseph Ratzinger

Lisboa, 21 abr 2011 (Ecclesia) – O novo livro de Bento XVI sobre «Jesus de Nazaré» dá amplo destaque aos acontecimentos que envolveram a morte de Cristo, apresentando uma espécie de Paixão segundo Joseh Ratzinger.

A obra acompanha os momentos que os católicos de todo o mundo celebram por estes dias, na Semana Santa, com o Papa a afirmar que Jesus sentiu “perturbação diante do poder da morte”, falando de um duelo entre “luz e trevas”.

A respeito da oração de Jesus no Jardim das Oliveiras e da sua prisão, o Papa indica que “a angústia de Jesus é algo de muito mais radical do que a angústia que assalta todo o homem face à morte: é o próprio duelo entre luz e trevas, entre vida e morte”.

Bento XVI classifica o discípulo Judas como um “traidor”, afirmando que essa traição continua na história da Igreja.

Joseph Ratzinger escreve que “o próprio Deus «bebe o cálice» de tudo aquilo que é terrível e, assim, restabelece o direito por meio da grandeza do seu amor, o qual, através do sofrimento, transforma a escuridão”.

“A sonolência dos discípulos permanece, ao longo dos séculos, a ocasião favorável para o poder do mal”, alerta ainda.

Sobre a “Última Ceia”, Joseph Raztinger assinala a contradição entre os relatos do Evangelho de João e o dos chamados sinópticos (Marcos, Mateus e Lucas) quanto ao momento em que a mesma teve lugar, mas mantém a indicação de que terá acontecido numa quinta-feira.

Em 2007, falando no Vaticano, o Papa tinha afirmado que Jesus “celebrou a Páscoa com os seus discípulos, provavelmente, segundo o calendário de Qumran, portanto, pelo menos um dia antes” do que é narrado nos Evangelho sinópticos.

Bento XVI assinala agora que a “multiplicidade e a complexidade do mundo judaico no tempo de Jesus: um mundo que, não obstante o considerável aumento dos nossos conhecimentos das fontes, podemos reconstituir apenas de modo insuficiente”.

Mais adiante, o livro assinala que o julgamento que levou à morte de Cristo foi político e condena a ambiguidade do governador romano, Pôncio Pilatos.

“Depois do interrogatório, ficou claro para Pilatos aquilo que, em princípio, ele já sabia antes: aquele Jesus não era um revolucionário político, a sua mensagem e o seu comportamento não constituíam um perigo para a dominação romana”, escreve Joseph Ratzinger.

Bento XVI sublinha que o Evangelho de João é o único que refere o diálogo entre Jesus e Pilatos, “no qual é esquadrinhada em toda a sua profundidade a questão da realeza de Jesus, do motivo da sua morte”.

“A reivindicação da realeza messiânica era um delito político que devia ser punido pela justiça romana”, recorda, destacando que um rei sem legitimação de Roma “era um rebelde que ameaçava a «pax romana»” e, consequentemente, se tornava “réu de morte”.

O novo volume da obra de Bento XVI sobre «Jesus de Nazaré» defende, por outro lado, que a condenação de Cristo à morte não pode ser imputada aos judeus, mas à «aristocracia do templo» de Jerusalém, no século I.

“No quarto Evangelho (segundo S. João, ndr), o círculo dos acusadores que pretendem a morte de Jesus é descrito com precisão e claramente limitado: trata-se precisamente da aristocracia do templo” de Jerusalém, indica.

Bento XVI declara que Jesus não quis iniciar uma “revolução política” em Israel e que a “matança de outros em nome de Deus não correspondia ao seu modo de ser”.

OC

 

 

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Agência ECCLESIA

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