Cardeal-patriarca de Lisboa encerrou congresso internacional de história «100 anos de separação – Religião, Sociedade e Estado»
Lisboa, 16 abr 2011 (Ecclesia) – O cardeal-patriarca de Lisboa, D. José Policarpo, afirmou hoje que a relação essencial da Igreja é com a sociedade.
“Não me preocupa a separação do Estado, mas sim se a Igreja vive separada da sociedade”, disse o prelado na sessão de encerramento do congresso internacional de história «100 anos de separação – Religião, Sociedade e Estado», que decorreu na Universidade Católica, em Lisboa.
O II Concílio do Vaticano (1962-1965) “definiu a missão como a relação da Igreja com a sociedade”, recordou o patriarca, assinalando que o elemento central é “a construção da convivência humana”.
“Chamem-lhe comunidade, fraternidade, respeito mútuo, grande família humana como João Paulo II disse”, acrescentou.
José Policarpo reconheceu que a “nova compreensão do II Concílio do Vaticano leva algum tempo a perceber, mesmo dentro da Igreja”, apontando ser necessário haver “criatividade”.
“Mas também se devem evitar ideias fixistas do Estado”, alertou, “mesmo que consagradas na Constituição. Esta fixação não é sadia”.
O patriarca afirmou à Agência ECCLESIA que a neutralidade face às religiões é posta em causa pelas pessoas que integram os Estados.
“Ou são crentes e esses são os mais tímidos, porque temem ser acusados de estar a colocar a sua condição de crente na política, ou são descrentes e marcados por uma laicismo militante, quase uma segunda religião de sentido negativo”, disse.
O prelado considerou que o “laicismo agressivo pode criar problemas, não à religião em si mesma, mas à convivência entre os Estados”, e realçou que a autoridade dos países está “ameaçada e o poder é fraco”.
Para José Policarpo é importante “ir aferindo o Estado como um serviço e não como um poder invasivo que tudo toma e domina”.
Por seu lado, o reitor da Universidade Católica Portuguesa, Manuel Braga da Cruz, assinalou que a liberdade religiosa implica que as Igrejas possam falar da sua doutrina e na escolha da educação religiosa a dar às crianças.
“A não intervenção do Estado na Igreja não significa indiferença, mas um reconhecimento para que a Igreja possa realizar o seu trabalho, nas vertentes sociais que já concretiza”, indicou.
À Agência ECCLESIA o reitor referiu que a religião pressupõe a manifestação pública da fé: “Este testemunho tem de ser respeitado pela sociedade em nome do pluralismo, mas também respeitado pelo Estado”.
LS