«Debate consistente» e formulação de propostas são «essenciais» no atual contexto social e político, diz D. Manuel Clemente
Lisboa, 16 abr 2011 (Ecclesia) – O bispo do Porto, Manuel Clemente, afirmou hoje que a “verdadeira democracia” pressupõe propostas e um “debate consistente”.
A perspetiva cristã da vida, afirmou o prelado, “respeita o outro mesmo quando não estamos de acordo com ele”, acrescentando, que “este respeito não significa alheamento ou uma tolerância vazia” mas sim “uma proposta permanente e um debate consistente”.
Em declarações à Agência ECCLESIA, Manuel Clemente afirmou que esta postura é “essencial” no contexto social e político que vivemos.
O bispo do Porto falava esta manhã no congresso internacional de história «100 anos de separação – Religião, Sociedade e Estado», a decorrer na Universidade Católica Portuguesa (UCP), que termina no final da tarde.
Numa “sociedade irremediavelmente plural”, “não nos devemos eximir de transportar as nossas convicções para a sociedade, mas sabendo que o fazemos como testemunho e debate”.
A separação política, o reconhecimento da liberdade religiosa e a autonomia da religião face às políticas e às organizações estatais “foi e continua a ser complexo”, indicou Manuel Clemente.
“Em termos pessoais, o que é a expressão pública da crença, para quem tem crença, é uma questão irresolúvel, uma questão permanente”.
Na sua comunicação no congresso o prelado sublinhou que a grande contribuição do Século XX para esta reflexão é o reconhecimento de que a base da sociedade é sustentada por uma perspetiva personalista, “onde existem pessoas em relação”.
“As sociedades são formadas por cidadãos múltiplos, de convicções díspares, e que, por serem pessoas, as transmitem e as debatem a partir das suas convicções. A laicidade do Estado garante este pluralismo, não se opõe a ele”.
Para o prelado o elemento “insuperável é sempre a consciência”, mas enquanto instância de “receção e transporte, que aprende mutuamente”.
“À época, as fronteiras da consciência era limitadas ao que cada um pensava para si. No século XX foi-se percebendo que é o que pensamos com os outros”.
A lei da separação de 1911 deu continuidade “a velhas bulhas” na afirmação das fronteiras entre a Igreja e o Estado, que se começaram a sentir a partir de 1832.
LS
(atualizada às 14h52)