«Caímos na emergência política que faltava»

Jornalista Graça Franco considera que a situação actual do país resultou de um «défice de verdade e de ética da gestão da coisa pública»

Lisboa, 31 Mar (Ecclesia) – A jornalista Graça Franco considera que a instabilidade política que o país atravessa, depois do chumbo do PEC4 na Assembleia da República, foi o último passo para um abismo que há muito se antevia.

“Caímos na emergência política que faltava e foram penosos os treze dias de inacção presidencial que mediaram entre o pré-anúncio da crise e o respectivo desfecho na véspera da Cimeira de todos os riscos” sublinha a directora de informação da Rádio Renascença num artigo de opinião publicado na última edição do Semanário Agência ECCLESIA.

Perante “a maior crise económica e social das últimas décadas”, aquela responsável defende a necessidade de “um exame colectivo”, que permita ver o que deve ser alterado e que favoreça o desenvolvimento de soluções eficazes.

“Ou nos mobilizamos todos para uma acção comum, dispondo-nos a escutar e aprender até dos adversários ou, em democracia, talvez já não tenhamos uma segunda oportunidade”, avisa, considerando que “os totalitarismos, populismos e anarquismos espreitam”.

Graça Franco aponta o dedo ao Governo, que fez crer que o país caiu na crise devido a efeitos externos, quando “bem antes de se desencadear a violenta crise internacional era já claro que a aparente consolidação das contas não passava de uma operação de cosmética pouco clara”.

O eleitorado português, segundo a jornalista, também “não quis ouvir” as vozes de alerta que “chamaram a atenção para a necessidade de conter o rolo compressor da dívida”.

Em vez disso, sucederam-se “planos megalómanos” e “grandes investimentos públicos”, que em lugar de contribuírem para a evolução do país, não foram mais do que a imagem de “um défice de verdade e de ética na gestão da coisa pública”.

Imagem essa que perdeu definitivamente a “máscara” no segundo mandato de Sócrates, que antes do chumbo do PEC, conheceu dissabores em termos de imagem, com “os indícios de corrupção, compadrio e nepotismo” que atingiram o Governo.

Refém de um grave desequilíbrio das contas públicas, preso pela “tenaz da dívida externa”, obrigado a recorrer a ajuda exterior, Portugal apresenta actualmente sinais de uma enorme precariedade.

A jornalista aponta como exemplos o “disparo da taxa de desemprego” e as inúmeras pessoas que hoje em dia se debatem com um emprego precário.

“Vale a pena lembrá-los na hora de aceitar, ou recusar, inevitabilidades e soluções desumanizadas e estritamente economicistas que as vozes liberais (ou pior do que elas as neo-liberais!) se apressarão a vender-nos” conclui Graça Franco.

JCP

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