Haiti: «Motivar» quem perdeu tudo para o terramoto

Portuguesa Maria Leitão, responsável numa instituição de cooperação para o desenvolvimento, dá testemunho do seu trabalho naquele país

Port-au-Prince, Haiti, 21 Mar (Ecclesia) – A portuguesa Maria Leitão está no Haiti, através de uma organização espanhola de cooperação para o desenvolvimento, a ajudar a curar as feridas de uma nação ainda mal refeita do terramoto de Janeiro de 2011.

“Neste momento, já não estamos a trabalhar nos campos de desalojados, mas sim a motivar que as pessoas voltem para as suas casas (quando as têm), para casa de familiares ou para o campo” adianta a responsável de projecto, em declarações prestadas à agência ECCLESIA.

A instituição espanhola CESAL está presente no Haiti desde 2008, tendo começado com projectos de desenvolvimento na localidade rural de Fons Verrets, junto à fronteira com a República Dominicana.

Perante uma realidade “extremamente pobre”, concentrou esforços sobretudo na promoção da segurança alimentar, na protecção dos solos para cultivo, das captações de água, e no apoio em matéria de nutrição.

Com o terramoto de Janeiro de 2010, que matou mais de 200 mil pessoas e desalojou cerca de um milhão de habitantes, as prioridades passaram a ser outras.

“O nosso colega Jordi Bach, que estava em Fons Verrets, veio imediatamente para Port-au-Prince e começou a ajudar a população, desde transportar feridos e mortos, a ir buscar água e tendas para as pessoas” revela Maria Leitão, que passou a ficar responsável pela criação da sede da CESAL na capital do país.

Foram criados dois campos de desalojados, em Port-au-Prince, mais concretamente no bairro de Cité Militaire – um nos terrenos da paróquia de Nossa Senhora de Lourdes e outro nos terrenos de uma escola das Irmãs Salesianas.

“Abrigámos cerca de 6 mil pessoas, fornecendo tudo o que eram cuidados básicos: construção de tendas, de latrinas, fornecimento de água, alimentos, cuidados médicos primários” realça a mesma responsável, para quem “o terramoto, o despoletar da cólera em Outubro passado e do ciclone Thomas, em Novembro, fazem do país um cenário de destruição e pobreza avassalador”.

“A instabilidade política e as perturbações sociais são uma constante fonte de intranquilidade nas ruas” acrescenta ainda.

Neste momento, a acção da CESAL alargou-se então de Fons Verrets para a Cité Militaire, com projectos de apoio psico-social para famílias e crianças e de favorecimento da escolarização, sobretudo entre crianças e jovens de rua.

A criação de um centro de tratamento oral de cólera e o apoio a uma escola, em Fons Verrets, e a ajuda no levantamento de pequenos negócios, para as mulheres de Cité Militaire, são outras mais-valias que a instituição está a procurar implementar.

Maria Leitão acredita que “a construção de relações pessoais e a capacidade de mobilização das pessoas estão a ser a chave para a mudança”, destacando “a determinação, a esperança e a tenacidade” com que a população haitiana tem enfrentado o dia-a-dia.

Depois de uma visita do presidente da Caritas, Eugénio da Fonseca, ao Haiti, em Fevereiro último, ficou aberta uma via de colaboração entre Maria Leitão e a Caritas, que teria na portuguesa uma mediadora privilegiada para o cumprimento dos seus projectos.

“Interessam-nos os projectos que sejam sustentáveis no tempo” declara a responsável, esperando “contar com a Caritas neste desafio”.

Todo o trabalho realizado pela CESAL, em conjunto com outras organizações não-governamentais de apoio aos mais desfavorecidos, tem sido acompanhado no terreno pelas Nações Unidas.

JCP

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