Mensagem de Quaresma dos bispos de Vila Real

Mensagem para a Quaresma

Assumir as dores e as esperanças da Sociedade

 

1 – A Quaresma, como tempo de preparação para a Páscoa, decorre neste ano do dia 9 de Março ao dia 21 de Abril, seguindo-se o tríduo pascal e a Páscoa no dia 24.

Falar da Quaresma parece hoje desnecessário, tão grandes são as privações e os sofrimentos com que andamos esmagados. Todavia, os sofrimentos não constituem por si mesmos exercícios quaresmais, nem a Quaresma é propriamente uma soma de martírios. Aqueles sofrimentos são sintomas de que algo vai mal na sociedade, e o cristão deve fazer suas as alegrias e as esperanças do mundo em que vive (GS 1). A Quaresma é esse tempo longo de reflexão e de exercícios espirituais que educam a fé recebida no Baptismo e reconduzem ao amor de Deus e aos outros, numa gradual conversão de cada um e da vida em sociedade.

 

2 – A sociedade vem a tentar organizar-se sem valores éticos e religiosos que, para muita gente, parecem supérfluos e mesmo um entrave. Mas o cidadão atento verifica que na sociedade falta calor e vida, como se andássemos todos cansados, com frio e sem nunca alcançar o sol.

Apesar da muita legislação, há cada vez mais estruturas que não funcionam, vizinhos que se desconhecem, casados que se agridem e se separam em número cada vez maior, pais que matam os filhos e filhos que matam os pais, empresas públicas que acumulam lucros enormes com bens indispensáveis aos cidadãos, milhares de abortos oficializados com despesas superiores a muitos subsídios familiares, mecanismos que afastam as pessoas em vez de as aproximar, legalização de casamentos que são estrutura de egoísmo, idosos abandonados e candidatos ao suicídio. O progresso técnico não coincide com a paz e a alegria.

 

3 – Aqueles factos aproximam-nos dos tempos bíblicos do rei Acab e do profeta Elias, da cidade de Nínive e do profeta Jonas, da paganização cultural de Israel pelos gregos e da reacção dos Macabeus, do compadrio de Herodes com os romanos no tempo de João Baptista.

Foram épocas de infidelidade espiritual de Israel, da liberdade sem verdade, da aliança com os pagãos. Os profetas chamaram o povo à razão, à oração e à penitência: «reconhecei que é errado o caminho que percorreis, convertei-vos ao Senhor, e encontrareis a vida». Os humildes escutaram a palavra de Deus e o seu contributo foi precioso para toda a sociedade.

Quaresma é esse tempo de reaprender a viver com Deus, em comunhão de Igreja e com as outras pessoas. Para ser eficaz, essa aprendizagem tem de chegar ao coração de cada um, pois é no coração do homem que estão a doença, a soberba, os adultérios, as invejas, a ganância (Mc 7,21). Nenhuma lei nem fiscalização humanas podem substituir a conversão do coração. Sem mim nada podeis fazer, avisara o Senhor, Ele que é a chave da história e da vida dos povos. Não é uma pessoa supérflua, nem O podemos dispensar.

 

4 – Entre nós, são ainda muitos os hábitos de raiz cristã. Ouvir a palavra de Deus, rezar, jejuar e renunciar, são os clássicos caminhos quaresmais. Além dos modos habituais da oração diária e da abstinência às sextas feiras e da partilha de bens, que os pais devem transmitir aos seus filho, cada um é convidado a descobrir novos modos de rezar e de viver a renúncia, desde o uso exagerado da Net e dos computadores até ao esbanjamento de dinheiro e das horas da noite.  

É preciso cair na conta de que vivemos numa sociedade laica, pobre e desorientada, sendo necessário tomar atitudes que afastem falsos progressos, falsas liberdades e falsos triunfos. Neste ano a comunidade internacional faz apelo ao «Voluntariado» como ajuda à solução de muitos problemas sociais, apelo que pode ser aproveitado para visitar doentes e idosos.

Nos Domingos da Quaresma, um dos bispos irá à Sé, às 17 horas, fazer uma meditação da Palavra de Deus, depois do exercício da via-sacra.

A renúncia quaresmal deste ano será enviada para o «Fundo Solidário» da Conferência Episcopal, de que a diocese já tem beneficiado.

 

Vila Real, 11 de Fevereiro de 2011

Joaquim Gonçalves, Bispo de Vila Real
Amândio José Tomás, Bispo Coadjutor

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