Quaresma: Cardeal-patriarca quer «mais verdade e radicalidade» na vivência da fé

A Igreja, «povo de peregrinos que sabe que não tem neste mundo morada permanente e definitiva», tem consciência de que «se quer Jesus, não pode evitar a Cruz»

Lisboa, 09 Mar (Ecclesia) – O cardeal-patriarca de Lisboa considera que a Quaresma é o período do ano que melhor evidencia os aspectos nucleares do cristianismo e em que os católicos são chamados a viver a sua fé “com mais verdade e radicalidade”.

Na missa a que presidiu hoje na sé patriarcal, D. José Policarpo afirmou que a Quaresma “encerra a verdade profunda de toda a vida cristã”, cuja “atitude fundamental” os fiéis são chamados a redescobrir.

Durante a homilia o prelado empregou 12 vezes a palavra “peregrinação” para se referir à Quaresma, tempo litúrgico em que os cristãos lembram o trajecto de Jesus até Jerusalém, cidade onde foi crucificado e, de acordo com as convicções cristãs, ressuscitou.

“Todos aqueles discípulos que peregrinam com Jesus vão viver esses momentos dramáticos da Paixão do Senhor: alguns fogem, outros desistem, escandalizados com a humilhação do seu Messias-Rei. Mas os que foram capazes de seguir Jesus, na sua peregrinação pessoal, vão ter a surpresa da Ressurreição”, disse o cardeal.

Inspirado pelo percurso de Cristo, o dinamismo da peregrinação permanece na Igreja, rumo à “Jerusalém Celeste”, imagem bíblica que origina a crença dos cristãos na existência de vida após a morte, em união definitiva e plena com Deus.

Para D. José Policarpo, a caminhada de Jesus em direcção a Jerusalém para celebrar a Páscoa – palavra que significa ‘passagem’ – constitui a “referência fundadora” da peregrinação dos fiéis, que não podem “perder os olhos de Cristo”, pois “só Ele” dá “força para avançar por entre as dificuldades”.

A Igreja, “povo de peregrinos que sabe que não tem neste mundo morada permanente e definitiva”, tem consciência de que “se quer Jesus, não pode evitar a Cruz”, sublinhou o prelado, que no final de Fevereiro fez 75 anos, motivo que o levou a apresentar a renúncia ao cargo ao Papa Bento XVI, de acordo com as normas do Direito Canónico.

No entender do cardeal, “a Quaresma é um tempo de oração, não de uma oração qualquer”, mas uma “meditação” e um “diálogo” com Cristo, sobretudo através da Bíblia: “Neste tempo toda a palavra, mesmo a da Igreja, deve fazer-nos mergulhar na Palavra de Deus”.

Por outro lado, “é próprio dos peregrinos levar uma vida simples, na comida, no vestuário, no alojamento”, pelo que esta “simplicidade”, de que “o jejum é uma expressão”, contribuirá para que os fiéis não fixem “o coração nas coisas do mundo”.

“Caminhamos como pobres, como Jesus com os seus discípulos e os pobres aprendem a partilhar”, vincou D. José Policarpo, acrescentando que essa sobriedade valoriza a “verdade interior, que só Deus conhece, e não a aparência vistosa dos critérios” mundanos.

“Neste processo, vai-se realizando, cada dia mais, a nossa conversão interior”, acrescentou o prelado, que sugeriu a leitura do segundo volume da obra ‘Jesus de Nazaré’, assinada por Bento XVI, a ser apresentada esta quinta-feira no Vaticano.

A Quaresma, que começa hoje, é um período de 40 dias, exceptuando os domingos, marcado por apelos ao jejum, partilha e penitência, que servem de preparação para a Páscoa, a principal festa do calendário dos cristãos.

RM

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