O filme que quer mudar a sua vida

Goste-se ou não, ver «A Paixão de Cristo» segundo Mel Gibson é uma experiência que não deixa ninguém indiferente Tem hoje lugar uma das estreias mais aguardadas dos últimos tempos no nosso país, “A Paixão de Cristo”, realizada pelo galardoado Mel Gibson. Apesar de toda a polémica e a campanha de descredibilização da obra, sobretudo nos EUA, o filme tem-se revelado um sucesso de bilheteiras e o segredo poderá estar na aposta de risco do próprio Gibson: é dado adquirido que ninguém adormece durante as horas de filme, mas é possível que haja quem saia da sala a meio da projecção. O actor e realizador Mel Gibson começou a rodar “The Passion of Christ”, que retrata as últimas 12 horas da vida de Jesus, em finais de 2002. A grande novidade deste filme é ser falado apenas em latim e aramaico, como forma de permanecer fiel ao guião evangélico, de onde o australiano retira ainda outro dado nunca antes tratado como agora: a violência do sofrimento infligido a Jesus. A Agência ECCLESIA já viu o filme e pode assegurar que, a determinada altura, parece impossível que um ser humano suporte a quantidade de castigos corporais com que Jesus é “presenteado” por Mel Gibson. A obra apresenta uma narração que nem sempre segue à risca o texto dos Evangelhos, mas não será a incerteza do desfecho a prender os espectadores à cadeira, antes a intensidade das imagens e dos sons. Mesmo quem julga saber tudo sobre o relato da Paixão poderá dar por si a reagir como se fosse a primeira vez que visse a história. Mel Gibson e a sua equipa comprometeram-se de alma e coração nesta realização e não é nenhuma surpresa que, no momento da crucifixão, sejam as mãos de Gibson as que estão a segurar a cruz onde Jesus é pregado. Ou que as cenas da última ceia tinham sido gravadas diante do Santíssimo Sacramento. O filme teve como cenário as localidades italianas de Sassi de Matera e Craco, transformadas completamente em função dos cenários: muros e torres, as cruzes do Gólgota, casas, mercados e vestes de há 2000 anos, tudo para filmar a Última Ceia, a prisão e julgamento, o encontro com Pilatos, a crucifixão e a morte de Jesus. Mesmo antes de estar concluído, o filme suscitou forte polémica nos Estados Unidos por causa da reacção de organizações judaicas norte-americanas, que acusam Gibson de retomar a acusação “Judeus, povo deicida” formulada na oração de Sexta-feira Santa pré-Vaticano II. Abraham Foxman, director da Liga Anti-Difamação Judaica (ADL), viajou até ao Vaticano para que a Igreja Católica desautorizasse a fidelidade evangélica do filme de Gibson, que estreou nos EUA a 25 de Fevereiro, Quarta-feira de Cinzas. Voltou de mãos a abanar. A verdade é que o grosso da violência exercida sobre a figura de Jesus sai das mãos dos Romanos e impressiona, não em virtude da sua origem, mas pelo desprezo absoluto com que é utilizada sobre um homem. Mel Gibson admite que o filme tem cenas muito violentas, mas vinca que ninguém é obrigado a vê-lo. “Queria que as pessoas estremecessem e queria que se visse a imensidão deste sacrifício, como se pode dar amor e perdão apesar da dor extrema”, afirmou. João Paulo II já viu a obra e, apesar de se ter especulado sobre a sua reacção, a Santa Sé desmentiu que o Papa tivesse feito qualquer comentário público. Segundo Gibson, “The Passion of Christ” é um filme feito para inspirar, não ofender: “a minha intenção, ao levá-lo às telas, é criar uma obra de arte que fique e motive a reflexão nas audiências de diversos credos ou de nenhum, para quem a história seja familiar. Este é um filme sobre fé, esperança, amor e perdão, tão necessários nestes tempos turbulentos”. Apesar de toda esta boa vontade do realizador, o filme não é uma narrativa sobre a vida de Cristo. É um filme sobre a sua morte, dolorosa e sangrenta, que ao longo de séculos tinha vindo a ser estilizada, para não chocar. Goste-se ou não, ver «A Paixão de Cristo» segundo Mel Gibson é uma experiência que não deixará ninguém indiferente.

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