É mais um dos grandes candidatos a Oscars: melhor filme, actor, montagem, argumento adaptado, banda sonora e música originais.
Este um dos principais factores de atracção de “127 Horas”, de Danny Boyle (“Quem quer Ser Bilionário”). Os outros, o facto de se basear numa impressionante história verdadeira e de conter uma sequência de 3 minutos que já arrasou os menos impressionáveis.
Em 2003, o desportista radical Aron Ralston parte para mais uns dias de aventura na extraordinária região do Grand Canyon. Seguro da sua experiência e optimista inveterado, avança sozinho deserto adentro, pedalando à velocidade do desejo de mais um encontro a sós com a Natureza.
A mesma Natureza que lhe proporciona inesquecíveis momentos de intimidade e beleza ou inimagináveis picos de adrenalina, é a que não se compadece com um momento de distração.
Em segundos e em nenhures, sem telemóvel ou quem saiba do seu paradeiro, Aron cai abruptamente duma paisagem a perder de vista onde tudo era possível para um exíguo fundo, entre duas enormes rochas. Pior, tem parte dum braço irreversivelmente entalado. Confinado a restritíssimo espaço e margem de manobra, o desafio de Aron passa do gozo da liberdade plena para a sobrevivência. Pura e dura.
Quiçá estimulado pelo sucesso atingido com a original história de um rapazinho indiano que “venceu na vida”, Danny Boyle e sua equipa lançam-se a este enorme desafio que é tornar sustentáveis as 127 dolorosas horas de um homem em luta pela sobrevivência.
Sem a liberdade concedida pela ficção e com a realidade como suporte e responsabilidade, Boyle tem que gerir consideráveis contrastes como os que vão da amplitude à redução dos espaços físico e mental da paisagem e personagem.
O que facilmente se escreve num parágrafo, dificilmente se obtém, mesmo com sério esforço de uma equipa experiente. E se um excelente trabalho de montagem imprime uma dinâmica muito certeira ao filme, capaz inclusivamente de garantir o necessário equilíbrio entre dimensões cenográficas tão diversas e garantindo o melhor aproveitamento do trabalho fotográfico e musical, já o tratamento do argumento deixa mais a desejar…
Talvez para contrariar a tendência claustrofóbica do enredo fosse preciso levizar o estado de espírito do protagonista, mas tirando os tenebrosos e famosos 3 minutos de amputação – e é de crer que ali estão para suprir essa ausência – falta genuíno espírito e carga dramática ao filme, aqueles que se esperam de um ser humano ante o fim da vida: a inspiração e o génio que o impelem à sobrevivência e à transformação, fazendo-o a ele e a nós, espectadores, uns, antes, e homens/mulheres diferentes, após tal caso.
Se é falha de argumento ou ausência de fundamento da personagem real, para lá do extraordinário e egocêntrico desafio de alguém se superar a si próprio, não sei. Mas a impressão que o filme deixa é a de que Aron Ralston aprendeu uma coisa: a avisar para onde ia. E pouco mais.
Margarida Ataíde