Guerra Colonial, 50 anos depois

Oposições católicas, a influência de Paulo VI e o caso da Capela do Rato em análise

Lisboa, 01 Fev (Ecclesia) – Os pontificados de João XXIII (Papa entre 1958 e 1963) e, em especial, de Paulo VI (1963-1978) motivaram vários sectores da Igreja Católica em Portugal para uma mobilização contra a guerra.

A temática é apresentada na última edição do semanário Agência ECCLESIA, hoje publicado, num momento em que se aproximam os 50 anos do início da guerra em Angola, a 4 de Fevereiro de 1961, com o ataque à Cadeia de São Paulo e à Casa de Reclusão, em Luanda.

João Miguel Almeida, investigador do Centro de Estudos de História Religiosa da UCP, fala da relação do regime salazarista com o Papa Paulo VI, que, entre outros episódios, recebeu, a 1 de Julho de 1970, três líderes de movimentos de libertação africanos: Marcelino dos Santos, de Moçambique; Agostinho Neto, de Angola, e Amílcar Cabral, da Guiné-Bissau e de Cabo Verde.

“O regime via na guerra colonial uma necessidade, pois a presença portuguesa em África era oficialmente indiscutível. A Igreja Católica declarava que todos os meios deviam ser discutidos e tentados para chegar à paz, pois, segundo a fórmula do tema escolhido por Paulo VI para 1973, «A paz é possível»”, assinala o historiador.

Episódio central na oposição dos católicos portugueses à guerra foi a ocupação da Capela do Rato, em Lisboa, na noite de 31 de Dezembro de 1972.

Jorge Wemans, actual director da RTP2, esteve preso em Caxias na sequência do caso e recorda-o agora, num texto para o Dossier desta edição.

“Resumidos em curtos parágrafos, os acontecimentos daquilo que ficou para a história como «O Caso da Capela do Rato» parecem indicar que o afrontamento entre o Governo e a Igreja Católica a propósito da guerra colonial era permanente e total. Nada mais enganador! Pelo contrário, ao fim de uma década de guerra o silêncio dos católicos e da hierarquia católica era ensurdecedor”, assinala.

Para Wemans, “mais do que um grupo organizado, o que esteve na base do Caso da Capela do Rato foi a convergência de diversas pessoas e grupos mais ou menos informais, marcados por uma solidariedade que já tinha sido testada em anteriores acções de distribuição de panfletos denunciando a guerra colonial, de circulação de livros, textos e informação anticolonial”.

“Desde o início da guerra, na continuidade da sua oposição à ditadura salazarista, que um conjunto não organizado de católicos vinha pontualmente questionando as opções do regime. Algumas iniciativas, como a vigília de São Domingos, a fundação da cooperativa Pragma, a carta aberta ao ditador, o apoio ao Bispo do Porto (expulso por Salazar), a criação da Comissão Nacional de Apoio aos Presos Políticos foram pontuando os anos sessenta”, precisa.

O padre Agostinho Brígido, missionário espiritano e capitão do Exército, relata a sua experiência como capelão, em Angola, precisamente em 1961, colocado no saliente de Cazombo, Alto Zambeze. “Felizmente que se criou logo uma boa relação entre a tropa e a Missão, gerando-se logo um grande apreço pelo seu trabalho missionário”, recorda.

Os textos publicados estão disponíveis online, na secção «Dossier» do portal da Agência ECCLESIA. 

OC

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