Homilia do Bispo de Santarém na celebração do Baptismo do Senhor

1. Jesus ungido pelo Espírito Santo

Celebramos hoje o Baptismo de Jesus que assinala o início da sua missão. A narrativa do Baptismo revela-nos a identidade de Jesus, quem é e qual a Sua missão, e ajuda-nos, por outro lado, a descobrir o significado do nosso Baptismo, a dignidade da vocação cristã.

Jesus foi baptizado por João Baptista, profeta que pregava um baptismo de penitência e de conversão. Jesus integra-se na fila dos pecadores que reconheciam os seus pecados. Precisava Ele também da conversão? Na perspectiva humana, João Baptista acha que não. Jesus, em resposta, dá um sentido novo ao baptismo: confere-nos a missão de estabelecer a justiça de Deus.

A narrativa simples e destaca alguns elementos: * os céus abriram-se: estabelece-se a comunicação entre o mundo de Deus (os céus) e o mundo dos homens. *O Espírito de Deus, o Espírito Santo desceu sobre Ele, tomou conta dele. De hora em diante, Jesus será sempre conduzido pelo Espírito Santo: “Deus ungiu com a força do Espírito Santo a Jesus de Nazaré que passou fazendo o bem”, afirma São Pedro. * Outro elemento: Deus Pai proclama Jesus como Filho predilecto, “Eis o meu servo, o meu eleito…Fiz de ti a aliança do povo e a luz das nações para abrires os olhos aos cegos”.

Tendo presente a centralidade deste acontecimento no mistério cristão, compreendemos que seja um dos mistérios mais representados na iconografia cristã e mais comentados pelos padres da Igreja. São Cirilo de Alexandria, destaca, entre os elementos do baptismo, a comunicação do Espírito Santo que Deus quer conceder a todos os homens para renovar a natureza humana. Ou seja, o Espírito Santo desceu primeiramente sobre Jesus para ser depois, através dele, comunicado a todos nós. Jesus é verdadeiramente o primogénito de muitos irmãos, o novo Adão, início de uma nova criação.

 

2. Mistério do nosso Baptismo

No baptismo de Jesus compreendemos o mistério do nosso Baptismo: Nascemos de novo pela água e pelo Espírito Santo. Vemos apenas alguns sinais (a água, a vela, a veste branca, etc.) mas o não vemos o mais importante – O Espírito Santo, fonte de vida que nos comunica a nova vida espiritual que nos torna filhos amados de Deus (“Eis o meu servo e eleito, sobre ele fiz repousar o meu Espírito”). Cumpre-se uma promessa de Deus feita no Antigo Testamento: “Naqueles dias derramarei o meu espírito sobre todos os homens”. Somos baptizados em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Tornamo-nos pertença do Pai (És meu filho); irmãos e herdeiros de Jesus; conduzidos pelo Espírito Santo que habita em nós. É esta pertença que recordamos e interiorizamos com um gesto simples que as mães devem ensinar desde cedo aos filhos (bênção). Destaco três aspectos do Baptismo:

A. É um dom de Deus, não um mérito nosso. A gratuidade do dom é ainda mais visível nas crianças. Deus adopta-as como filhos e comunica-lhes a vida espiritual, torna-as participantes da vida divina. Deus toca a nossa vida, abre uma porta de comunicação para viver em união connosco. “Os céus abrem-se” para cada criança que é baptizada. Os sacramentos são abraços de Deus. O baptismo é um tesouro escondido no interior dos baptizados.

B. É uma porta de entrada no templo espiritual formado por todos os fiéis. Precisa de continuidade. Não faz sentido permanecer na soleira da porta. Somos chamados a entrar para dentro. O Baptismo de infância é o primeiro passo de um percurso que precisa de ser percorrido. Não nos tornamos plenamente cristãos de uma vez para sempre. Fazemo-nos cristãos progressivamente. O baptismo está ligado a outros momentos sacramentais em que Deus nos comunica e fortalece com os seus dons: Baptismo, Confirmação e Eucaristia. O Baptismo, novo nascimento, faz-nos membros da grande família de Deus. o Crisma fortalece-nos com os dons do Espírito Santo para crescermos e darmos fruto; é o sacramento da vida cristã adulta; assim o dom gratuito torna-se opção pessoal esclarecida. A Eucaristia alimenta, fortalece, renova constantemente o Baptismo e a Confirmação. Sem a Eucaristia não podemos viver.

C. “Recebereis uma força”. No baptismo recebemos uma força para o bem. Para viver segundo o Espírito. Nós que fomos baptizados em Cristo caminhemos numa vida nova. Não devemos viver segundo as inclinações naturais, segundo o egoísmo, a vaidade, o individualismo, mas segundo o espírito de Deus, produzindo os frutos do Espírito: amor; alegria; paz, paciência, bondade, É uma tarefa a por em prática todos os dias.

A fé é uma força para o bem escondida no coração. Os pais que pedem o baptismo aceitam também a missão de lhe dar continuidade, de fazer que o baptismo dê frutos de vida cristã. Dá frutos quando se renuncia ao pecado para seguir o caminho do bem. Os pais são educadores e guias no caminho do evangelho. Guia é aquele que orienta no caminho que ele próprio segue, o caminho da luz que vence as trevas, o caminho da liberdade que rompe as dependências da escravidão. “Brilhe a vossa luz para que os vossos filhos, vendo as vossas boas obras, cheguem ao conhecimento do amor de Deus. São os votos de São Gregório de Nazianzo aos recém-baptizados: “Sede como astros resplandecentes no meio do mundo, isto é, como uma força vivificante para outros homens. Se assim fizerdes, chegareis a ser luzes perfeitas na presença daquela grande luz que brilha no céu, iluminados mais claramente pelo esplendor puríssimo da Trindade, da qual recebestes até agora apenas um único raio procedente da única Divindade, em Nosso Senhor Jesus Cristo. A Ele a glória e o poder pelos séculos dos séculos Amen”.

Santarém, Igreja Catedral, 9 de Janeiro de 1011

+ Manuel Pelino Domingues, Bispo de Santarém 

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