Novo momento civilizacional exige renovação da Igreja

Presidente da Conferência Episcopal alerta contra tendências conservadoras apegadas ao passado

O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), D. Jorge Ortiga, considera que a Igreja Católica deve dar um “passo em frente” face a um novo cenário social e cultural, evitando a fixação no passado e tendências “conservadoras”.

Em entrevista à ECCLESIA, o arcebispo de Braga afirma que exista a “tentação de pisar o mesmo terreno e não dar um passo em frente”, antes de falar num novo “momento civilizacional é novo”.

“Por vezes, dá impressão que muitos sacerdotes ainda não se convenceram da novidade deste mundo e alguns ainda sonham que a realidade que estamos a viver em termos mundiais passa e voltaremos novamente quase à cristandade”, alerta.

Para este responsável, a “tendência conservadora continua bastante forte nalguns sectores da Igreja, ligados a sacerdotes e a leigos”.

“Se não tivermos a dimensão do amanhã, desperdiçamos o hoje. O que deve comandar a vida da Igreja é a fidelidade ao Evangelho, reconhecendo que ele nos coloca sempre na vanguarda, obrigando-nos a dar um passo em frente”, reforça.

Neste sentido, e a respeito do projecto “Repensar a Igreja em Portugal”, lançado pela CEP, D. Jorge Ortiga espera que em finais de 2011 seja aprovado “um Plano Pastoral da Igreja em Portugal, com duas ou três ideias muito concretas que depois cada diocese concretizará de acordo com as suas características específicas”.

“Gostaria que o programa de repensar a pastoral da Igreja fosse levado a sério por todos os cristãos e por todos os que nos queiram ajudar a ser fiéis à missão que Deus nos confiou”, confessa.

O presidente da CEP destaca a intenção de “desenvolver uma pastoral que responda e não que imponha caminhos percorridos”.

“Agora, talvez estejamos a repetir soluções feitas há muito tempo e, por isso, a Palavra de Deus não está a ter incidência no coração das pessoas. A nossa linguagem e as nossas propostas estão alheias às preocupações e às aspirações das pessoas”, lamenta.

O próximo ano será o último do arcebispo de Braga na presidência da CEP, após dois mandatos, dos quais faz um balanço muito positivo.

“Ninguém pode dizer que, na Igreja em Portugal neste momento, há partidos ou fracções”, assinala.

Segundo D. Jorge Ortiga, há mesmo quem dia que a Conferência Episcopal “é demasiado pacífica”.

“Parece-me que o ambiente entre nós, mesmo diferentes, é de unidade e comunhão”, precisa.

O actual presidente da CEP admite que “deveria ter havido mais participação” da parte dos prelados “na redacção da Concordata” e que, na regulamentação do acordo de 2004, as relações com os sucessivos Governos “não foram fáceis nalguns aspectos”.

Em relação ao futuro, D. Jorge Ortiga vê na necessidade de nomear novos bispos – por renúncia dos que atingiram o limite de idade –  como “uma ocasião de mudança e renovação, nomeadamente nas Comissões Episcopais”.

“O desenvolvimento de projectos próprios nas Comissões Episcopais, sem esperar pela Conferência no seu conjunto, era um dos projectos em que queria ter avançado”, refere.

Para a sociedade portuguesa, o arcebispo de Braga deseja “um modelo de sociedade diferente, alicerçado na fraternidade e na justiça”.

Da parte da Igreja, sublinha, haverá sempre, face à crise, uma aposta na caridade “feita de atenção, de silêncio, de tempo”.

A entrevista a D. Jorge Ortiga pode ser vista no programa ECCLESIA (RTP2, 18h00) do próximo dia 29, Terça-feira.

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Agência ECCLESIA

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