Igreja portuguesa pode ir mais longe em matéria de cooperação

A assinalar 20 anos de existência, Fundação Evangelização e Culturas promove reflexão sobre o papel da fé no desenvolvimento global

O papel que a Igreja e as instituições religiosas podem e devem desempenhar, na definição de políticas de desenvolvimento a nível global, é uma matéria ainda pouco debatida em Portugal.

Consciente desse facto, e aproveitando a celebração do seu 20º aniversário, a Fundação Evangelização e Culturas (FEC) promove hoje, dia 13 de Dezembro, um Seminário intitulado “Fé e Cooperação”.

Em entrevista à agência ECCLESIA, Susana Réfega explica que a ideia do Seminário é “proporcionar um espaço de reflexão aberto, desafiador, sem medo de abordar questões complicadas”.

Para dar o exemplo, a directora executiva da FEC chama a atenção para o facto da Igreja Católica, no nosso país, “estar ainda muito vocacionada para abordar a questão da pobreza numa perspectiva de proximidade”.

Mais que uma crítica, esta observação deve ser entendida como um desejo expresso pela FEC para que se criem mais condições para realizar a sua missão.

Recorde-se que aquele organismo foi criado pela Igreja Católica, através da Conferência Episcopal Portuguesa e dos Institutos Religiosos, para “fomentar, potencializar e coordenar as vontades e os meios da Igreja portuguesa no seu relacionamento e cooperação com os países lusófonos”.

Para Susana Réfega, tem sido muito difícil envolver os responsáveis eclesiais numa lógica mais internacional”, sublinhando que “em matéria de cooperação para o desenvolvimento estamos todos no mesmo barco e os países lusófonos devem merecer uma maior atenção”.

Apesar das dificuldades que foram surgindo ao longo do caminho, sobretudo na obtenção de apoios e financiamentos para a realização dos seus projectos, a FEC apresenta já “dois marcos muito consolidados” junto dos países lusófonos.

“O primeiro na Guiné-Bissau, onde ao longo da última década avançámos com um projecto que tem dado dividendos, sobretudo na área da educação, através da formação de professores e de inspectores” conta a directora executiva da FEC.

Para a organização, o objectivo actual é “reforçar as capacidades guineenses, no sentido de dar instrumentos válidos para o sistema de educação no ensino básico”.

Em segundo lugar, destaque para a aposta na área da saúde materno-infantil, em Angola, onde a FEC começou por fazer “um levantamento de toda a resposta que é dada pela Igreja, na área da Saúde”.

Em Portugal, realce para a colaboração da FEC com a Rede do Voluntariado Missionário, no apoio e na formação de instituições que enviem leigos para trabalhar em missão.

“O ano passado foram mais de 300 os voluntários que partiram, com organizações católicas, para fazerem uma experiência de voluntariado em determinados países em desenvolvimento” revela Susana Réfega.

O trabalho em parceria, numa estreita ligação com diversas organizações religiosas, estatais e sociais, dentro dos diversos países de actuação, tem sido a imagem de marca do trabalho realizado pela FEC, ao longo de 20 anos de existência.

“Nesta área do desenvolvimento, uma organização sozinha não consegue avançar. Para realizarmos projectos de qualidade, precisamos de trabalhar com outras instituições, abarcando as mais variadas competências” explica a directora executiva da FEC.

“Daí que nós tenhamos apostado em fazer parte de uma rede europeia, chamada CIDSE” acrescenta a mesma responsável, referindo-se a uma “aliança internacional de agências católicas de desenvolvimento, que reúne 16 organizações católicas, da Europa e da América do Norte”.

Este órgão internacional, vocacionado para a advocacia social, será um dos convidados do Seminário “Fé e Cooperação”, através do secretário executivo Bernd Nilles.

A relação da religião com os poderes instituídos, políticos e sociais, será outra das matérias em destaque no Seminário “Fé e Cooperação”, contando com a presença de diversas organizações de inspiração cristã, como a Fundação Aga Khan, o Desafio Miqueias e a Cáritas de Angola.

A iniciativa realiza-se no Auditório 3 da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, e tem entrada livre.

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