Em dois pontos estratégicos da cidade de Aveiro o projecto «ceia com calor», da instituição «Florinhas do Vouga» dá, diariamente, uma pequena refeição quente aos sem-abrigo.
À reportagem do programa da Igreja Católica na Antena 1, o padre, João Gonçalves, presidente da direcção das «Florinhas do Vouga», sublinha o “empenho de todos os voluntários que na alegria sabem que reencontram Jesus Cristo naqueles que estão na rua”.
Perto de uma centena de voluntários dão do seu tempo. Saem de sorriso nos lábios e sem preconceitos.
Tentar que a noite se torne mais quente é um dos objectivos. Levam café e leite quentes, distribuem sandes e bolos que pastelarias e hotéis oferecem.
Nos dois locais de referência, a Estação e o Rossio, já esperam alguns sem-abrigo. Na sua maioria são homens. Reformados, ex-toxicodependentes, desempregados e arrumadores de carros.
Algumas mulheres que vivem da prostituição também aparecem de forma acanhada. Ali quase todos são tratados pelo nome.
O Luís, homem moreno, de barba sumida e tímido sorriso, todas as noites vem à carrinha. Bebe café com leite e oferece sorrisos. “Faço por estar sempre bem disposto. A vida tem de ser levada a rir… E, uma vez que estava mal, consegui ver-me mesmo ao espelho. Aí vi-me a mim próprio e tentei mudar as coisas… Não se consegue é mudar sempre tudo!”
O padre João Gonçalves faz a ronda com os voluntários duas vezes por mês. Sabe a história de muitos. Interpela-se com cada um e “tento ver Jesus Cristo em cada um deles, em cada rosto. Esta é a principal missão”.
Naquela noite, surgiu de entre os carros, um homem franzino. De braços abertos correu até ao sacerdote e cumprimentou-o, eram conhecidos de longa data. “Oh Padre João… o senhor conhece-me… foi o senhor que me baptizou, lembra-se? Mas eu não saí como você quis, saí como o diabo… não saí pelo caminho do bem, mas com 42 anos já não vou mudar… sou um diabrete!”
E fugiu novamente com o pão numa mão e a outra acenando para os automóveis, indicando estacionamento. O padre João Gonçalves guarda esta conversa, comenta mesmo o pormenor dele se lembrar do seu baptismo.
Cada um encerra uma história de vida, mais ou menos embrenhada por teias arrojadas e muitas vezes presos por um fio à vida que levam.
O Natal aproxima-se e a época não conforta quem está na rua. O projecto “ceia com calor” vai para a rua todas as noites e no dia 24 de Dezembro, noite de consoada, é servida uma ceia natalícia nas instalações das «Florinhas do Vouga».
Ainda assim, muitos não vão a esta ceia, pelo que depois de jantar “há sempre uma equipa de voluntários que vai para a rua e faz a ronda do costume”.
A Confederação Portuguesa do Voluntariado atribuiu ao projecto “Ceia com Calor”, criado em Dezembro de 2007, o “Troféu Português do Voluntariado 2010”.
A reportagem pode ser ouvida esta Sexta-feira, 10 de Dezembro, pelas 22h45, na Antena 1, ficando depois disponível na página do programa.