Mons. Salwomir Oder, postulador da causa de canonização, passou por Portugal
Chama-se Slawomir Oder o homem a quem a Diocese de Roma confiou o papel de “advogado” de João Paulo II no processo de canonização que se iniciou em 2005, uma “aventura espiritual”, nas palavras do próprio.
O sacerdote polaco, nascido em 1960, esteve em Portugal para apresentar o livro “João Paulo II – Santo”, com o qual quer mostrar a total “coerência” entre a vivência privada do falecido Papa e a sua vida pública, que foi acompanhada por centenas de milhões de pessoas, particularmente nos mais de 26 anos e meio de pontificado.
Em entrevista à Agência ECCLESIA, o presidente do tribunal de apelo do vicariato de Roma assegura que o título da obra não é uma “antecipação à decisão da Igreja” sobre o processo, mas nasceu de uma “convicção pessoal” sobre a santidade de João Paulo II.
Muitos são, aliás, os que têm partilhado com o postulador da causa de canonização essa mesma convicção, seja pessoalmente, seja através de cartas, “mesmo pessoas fora da Igreja”, incluindo judeus e hindus.
De Portugal, “terra muito querida” a João Paulo II (1920-2005) chegam muitas mensagens, que reforçam, segundo Mons. Oder, uma relação especial com esta “terra de Maria”, ligada ao falecido Papa polaco, em particular, pelas aparições de Fátima.
O postulador admite que o atentado contra a vida de Karol Wojtyla, de 13 de Maio de 1982, na Praça de São Pedro, abriu uma nova etapa no pontificado.
“Humanamente, ele sabia que a sua vida deveria ter acabado ali”, indica este responsável, para quem João Paulo II se entregou, posteriormente, à providência divina, sabendo que “a sua vida já não lhe pertencia”.
O padre Salwomir Oder não é, propriamente, um postulador “profissional”. Anteriormente, tratou apenas da beatificação do mártir polaco Stefan Frelichowski e foi, por isso, com surpresa que recebeu em 2005 a nomeação para postular a canonização de Karol Wojtyla, João Paulo II.
“Foi uma reviravolta na minha vida”, confessa, assegurando que os últimos cinco foram “os anos mais belos e enriquecedores”.
No seu livro, procura explicar como foi a tarefa de dirigir um trabalho rigoroso e objectivo de investigação de recolha de mais de 100 testemunhos, provas concretas pequenas histórias e episódios que provassem a santidade de Karol Wojtyla.
Mons. Oder assegura que o processo tem decorrido com absoluta “transparência” e deu mesmo voz aos que se opunham à beatificação. A estes, contudo, responde que João Paulo II só pode ser “conhecido desde dentro”.
Nesse sentido, reafirma a necessidade de um processo meticuloso, no qual procurou seguir o único conselho que lhe foi dado por Bento XVI: trabalhar “depressa e bem”.
“Trata-se de um estudo aprofundado, a 360 graus”, assinala, em que foi passada em revista “toda a documentação” relativa à vida do falecido Papa polaco.
O processo dá especial atenção aos últimos dez anos de vida, dado que a santidade é um “processo em crescendo”.
Mons. Oder destaca, na espiritualidade de João Paulo II, a sua “profundidade” e a “consciência de ser chamado por Deus a ser sacerdote”.
Para o postulador, este foi um Papa que “criou amizade entre as pessoas” e destaca um testemunho curioso para mostrar o seu “trato humano”, de um guarda suíço, responsável pela segurança do apartamento pontifício, o qual contou que João Paulo II foi o único a desejar-lhe um “Feliz Natal” de todos os que com ele se cruzaram.
João Paulo II foi declarado “venerável” pelo actual Papa em 19 de Dezembro de 2009, a primeira etapa para o reconhecimento oficial da Igreja enquanto “beato”. A segunda etapa do processo consiste no exame dos milagres atribuídos à intercessão do Papa polaco.
Quando após a beatificação se verifica um outro milagre devidamente reconhecido, então o beato é proclamado “santo”. A canonização é a confirmação, por parte da Igreja, que um fiel católico é digno de culto público universal (no caso dos beatos, o culto é diocesano) e de ser dado aos fiéis como intercessor e modelo de santidade.